Em uma cerimônia histórica, o escritor indígena e ativista ambiental Ailton Krenak tomou posse na Academia Brasileira de Letras (ABL) na noite desta sexta-feira (5/4). Em 127 anos de existência da instituição literária é a primeira vez que um indígena ocupa a cadeira. Krenak ocupa agora o lugar de número 5, que pertenceu a José Murilo de Carvalho, morto em agosto, e Rachel de Queiroz. O evento ocorreu no Petit Trianon, na sede da academia, no Rio de Janeiro.
Em sua chegada, Krenak afirmou que sua eleição simboliza uma “virada de página” na história da Academia e sua relação com os povos originários.
“Espero que o Brasil inteiro, os outros brasileiros, possam entender que nós estamos virando uma página da relação da ABL com os povos originários. Eu venho para cá, um espaço da lusofonia, trazendo as línguas indígenas para um ambiente que faz a expansão da lusofonia. Torço para que haja uma mudança na ABL e outras diversidades étnicas que temos no Brasil também possam ganhar espaço”, afirmou a jornalistas.
Nascido em Itabirinha, Minas Gerais, na região do Vale do Rio Doce, o intelectual é autor das obras Ideias Para Adiar o Fim do Mundo, A Vida Não é Útil e Futuro Ancestral, lançadas pela Companhia das Letras. O ativista teve ainda papel fundamental na participação dos povos originários na Constituinte, em 1988. Atualmente, o escritor reside na Reserva Indígena Krenak, em Resplendor (MG). Os krenak e os guarani-kaiowá foram anistiados no último dia 2 pelas perseguições sofridas durante a ditadura militar.
Entre os presentes, estava a ministra da Cultura Margareth Menezes, a presidente da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) Joenia Wapichana, o ministro dos Direitos Humanos Silvio Almeida e o secretário executivo do Ministério dos Povos Indígenas, Eloy Terena, além de representantes de povos indígenas de diversas regiões do país.
Trajando um fardão e uma tiara indígena, Krenak foi recebido pela acadêmica Heloísa Teixeira e agraciado com uma espada entregue pelo acadêmico Arnaldo Niskier e um colar das mãos da acadêmica e atriz Fernanda Montenegro e o diploma pelo acadêmico Antonio Carlos Secchin.
Krenak já apontou que uma de suas intenções é convidar a ABL para criar uma plataforma, que tenha uma experiência parecida com uma plataforma que já existe, a Biblioteca Ailton Krenak, disponível para quem deseja ter acesso a centenas de imagens, textos, filmes e documentos.
“Poderíamos fazer isso com todas as línguas nativas. Teria tudo a ver com a Academia Brasileira de Letras incluir mais umas 170 línguas além do português. Se olhamos os acervos que já existem, o Museu do Índio tem um acervo muito antigo de registros de narrativas, algumas delas só na língua materna. Vamos traduzi-las com uma tradução simultânea e as pessoas vão poder ouvir” afirmou no dia da eleição em outubro do ano passado.
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