As mudanças climáticas estão afetando diretamente a saúde de milhões de pessoas, especialmente crianças e adolescentes. Ondas de calor, secas, enchentes e a poluição do ar agravam a qualidade de vida, causando estresse térmico, doenças respiratórias e aumentando a vulnerabilidade a infecções. O alerta foi feito pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), em levantamento divulgado nesta segunda-feira (23/9), com um chamado aos candidatos e candidatas às eleições municipais para que implementem medidas de resiliência climática voltadas à proteção da população mais jovem.
Segundo o estudo, 33 milhões de crianças e adolescentes já enfrentam, em média, o dobro de dias extremamente quentes por ano, em comparação à geração dos avós. A análise do Unicef aponta um aumento de dias com temperaturas acima de 35ºC, passando de 4,9 dias por ano na década de 1970 para 26,6 dias na década de 2020.
Para o especialista em mudanças climáticas do Unicef, Danilo Moura, essas condições afetam outras áreas críticas da vida das crianças. “Os perigos relacionados ao clima para a saúde infantil são multiplicados pela maneira como afetam a segurança alimentar e hídrica, a exposição à contaminação do ar, do solo, e da água. Isso tudo interrompe serviços essenciais, incluindo educação, e força o deslocamento de famílias, especialmente as mais vulneráveis”.
O Unicef enfatiza a necessidade de que as políticas públicas sejam estruturadas para enfrentar essas questões com urgência. “Precisamos que os prefeitos e prefeitas eleitos priorizem ações para mitigar e se adaptar às mudanças climáticas, garantindo a proteção de crianças e adolescentes”, aponta Moura. Uma das sugestões do órgão é a incorporação do Protocolo Nacional para Proteção Integral de Crianças e Adolescentes em Situação de Desastres aos planos de governo municipais.
Com a média anual de dias extremamente quentes crescendo, as crianças e adolescentes que vivem nas cidades serão os mais afetados nos próximos anos, enfrentando os efeitos das mudanças climáticas em sua saúde e qualidade de vida. “Brincar e estudar em ambientes quentes se torna mais difícil, o que afeta diretamente o desenvolvimento dessas crianças”, disse Moura.
Estresse térmico
O estresse térmico, causado pelo aumento das temperaturas, é outro fator de preocupação. Segundo a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), esse fenômeno ocorre quando o corpo humano é exposto a um calor excessivo por um período prolongado, resultando em sintomas como dores de cabeça, mal-estar e perda de agilidade. Para crianças e gestantes, os riscos são ainda maiores.
Ao Correio, o pneumologista Rodolfo Bacelar explica sobre os riscos do estresse térmico, uma condição em que o corpo é exposto a temperaturas extremas, especialmente calor excessivo. “Os principais sintomas incluem tontura, fadiga, náusea, cãibras, suor excessivo e, em casos mais graves, confusão mental, perda de consciência e até lesão renal”. Ele ressalta que, em situações extremas, pode haver risco de morte súbita, sendo as crianças e os idosos os grupos mais vulneráveis. “O estresse térmico ocorre quando o corpo não consegue dissipar o calor de maneira eficiente, o que pode levar a desidratação, exaustão pelo calor e insolação”, acrescenta Bacelar.
Já o pneumologista Gilmar Zonzin revela que o impacto das mudanças climáticas é ainda mais grave para as crianças que vivem com doenças respiratórias. “O sistema respiratório de uma criança menor é mais vulnerável, sem defesas totalmente estabelecidas e estruturadas. Essa deficiência nas defesas naturais do aparelho respiratório torna crianças menores e adolescentes mais suscetíveis a determinados elementos presentes no ar do que pessoas adultas” . Para ele, a combinação de poluentes com altas temperaturas e baixa umidade intensifica o impacto dessas mudanças. “Doenças como a asma brônquica têm um elemento genético e ambiental. Essa carga maior de poluentes no ar, especialmente quente e seco, resulta em infecções respiratórias”.
As eleições municipais, que acontecem em duas semanas, serão uma oportunidade para que novas lideranças possam se comprometer a enfrentar essa crise climática com políticas que protejam as gerações futuras. O Unicef sugere que as ações incluam desde a melhoria da infraestrutura para enfrentar desastres naturais, até programas voltados ao combate à poluição e a promoção de hábitos de vida mais saudáveis, em ambientes escolares e comunitários. O órgão defende que a resposta a esse desafio está nas mãos de líderes que, com a urgência necessária, assumam a tarefa de preparar as cidades para um futuro mais seguro e saudável.
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