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Setembro terá onda de calor, queimadas e umidade baixa em pontos do país

O Brasil enfrenta um grave cenário ambiental neste ano. Em nove meses, o país já registrou 131 mil focos de incêndio — número que não era tão alto desde 2010, quando o valor do ano inteiro foi de 139 mil casos. Somente entre sábado e ontem, mais de 7,3 mil queimadas foram identificadas, principalmente, na Amazônia (4.656) e no Cerrado (1.820).

Pará, Mato Grosso e Amazonas foram os estados com mais incêndios das últimas 48 horas (veja no mapa). As informações são do Programa Queimadas, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), que monitora a situação em todo o país.

A tendência, segundo a MetSul Meteorologia, é que os focos de incêndio continuem neste mês e alcancem a maior média histórica. “Com uma massa de ar seco e extremamente quente cobrindo a Amazônia nos próximos dias e semanas, com temperaturas máximas perto e acima de 40ºC por muitos dias, a tendência que se desenha é de mais um mês com muito fogo no bioma e queimadas acima dos padrões históricos”, informa a previsão.

No Pantanal, a situação não é diferente. O Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) calcula que, somente neste ano, a área de floresta queimada no bioma equivale a quase cinco vezes o tamanho do Distrito Federal. Conhecida como a “capital do Pantanal”, Corumbá (MS) é a cidade brasileira com maior número de incêndios no ano — mais de 4,3 mil.

A situação, segundo o Ibama, é mais crítica agora pelo “adiantamento” da temporada de queimadas. Normalmente, esse período começaria em agosto, mas, neste ano, iniciou em junho. “O período de julho de 2023 a junho de 2024 também foi o mais quente já registrado no planeta”, constata a autarquia. “A combinação de condições climáticas adversas, como a seca histórica agravada por fenômenos como El Niño e La Niña, junto a práticas humanas insustentáveis, como queimadas descontroladas para atividades agropecuárias, está acelerando a propagação do fogo e ameaçando a biodiversidade da região, assim como as comunidades que dela dependem. Não foram identificados incêndios causados por raios nos meses de maio e junho, o que evidencia a influência humana no desastre ambiental”, descreve a entidade ambiental.

Baixíssima umidade

De fato, como ressalta o Ibama, o cenário dos altos focos de incêndio é uma combinação de fatores. Um deles, muito intenso, é a baixa umidade. O Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) emitiu um alerta vermelho durante a tarde de ontem devido à baixíssima umidade (menos de 12%) no Centro-Oeste e Sudeste. Dados das estações meteorológicas do país mostram que a umidade chegou a 7% em Goiânia, Barretos (SP) e Cotriguaçu (MT). Em Brasília, o dia mais seco do ano marcou 9% de umidade.

Para hoje, o centro meteorológico está em alerta amarelo por conta da baixa umidade e uma onda de calor, que abrangem as mesmas regiões e sobem ao Norte, onde o cenário das queimadas é o mais grave. As autoridades climáticas alertam ainda para uma “onda de calor excepcional”, em que os termômetros podem bater 45ºC em alguns pontos do país. A previsão é de que isso ocorra com maior intensidade na primeira quinzena de setembro.

Essa semana a temperatura deve ficar em torno de 40ºC no Paraná, Mato Grosso do Sul, São Paulo, Mato Grosso, Minas Gerais, Tocantins, Goiás, Distrito Federal, Rondônia, Acre, Amazonas, Pará, Tocantins, Bahia, Piauí e Maranhão. Já na próxima, o calor deve ser maior ainda, quando as máximas serão mais altas e o pior cenário se desenha para ser no Norte, Centro-Oeste e Sudeste — exatamente onde há mais queimadas ocorrendo.

Em São Paulo, por exemplo, a Secretaria de Meio Ambiente, Infraestrutura e Logística do estado chegou a fechar, no domingo, cerca de 80 unidades de conservação na região metropolitana e interior do estado. A decisão foi uma resposta ao crescente risco de incêndios florestais, que coloca em perigo tanto os visitantes quanto às áreas de preservação.

Cidades encobertas

Desde que os incêndios florestais começaram a se intensificar, casos de cidades cobertas por nuvem de fumaça têm sido mais frequentes. Cidades do interior de São Paulo, Amazonas e até Brasília tiveram dias cinzentos.

A concentração dos chamados “aerossóis atmosféricos”, que são pequenas partículas suspensas na atmosfera oriundas de incêndios florestais, pode ser vista através de mapas do satélite Copernicus, da União Europeia. Neles, é possível verificar uma densa nuvem de fumaça tóxica na região Norte, que se estende até o Paraná, no Sul do país.

O Correio fez a comparação entre a previsão de dissipação da fumaça que foi feita na quinta pelo satélite com a que está ocorrendo hoje. Nas imagens, é possível ver a área mais densa de partículas e também mais extensa. A região Amazônica é onde há maior concentração de partículas atualmente. A fumaça está sobre Amazonas, Acre, Roraima, Rondônia, além de parte do Pará, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul.

O “corredor de fumaça” desce pelos países vizinhos e atravessa em direção ao Oceano Atlântico passando pelo Paraná, São Paulo e parte do Rio de Janeiro. Nos próximos dias, pela previsão do satélite, a fumaça pode também avançar pelo Centro-Oeste.

Colaborou Iago Mac Cord, estagiário sob a supervisão de Carlos Alexandre de Souza

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