O Ministério da Saúde confirmou, ontem, um caso de óbito fetal causado por transmissão vertical da febre Oropouche, em Pernambuco. A grávida tem 28 anos e estava na 30ª semana de gestação. A pasta informou que estão em investigação outros oito casos da infecção. Quatro deles resultaram em morte do feto e os outros apresentaram anomalias congênitas, como a microcefalia.
A doença é considerada um surto por especialistas, pois são contabilizados mais de 7 mil notificações confirmadas neste ano, em 21 estados brasileiros, com três mortes — as primeiras do mundo. A maior parte dos casos são no Amazonas e em Rondônia.
“A confirmação considerou, entre outras informações, resultados que descartaram outras hipóteses de diagnóstico e resultados positivos em exames RT-PCR e imunohistoquímico”, destacou o Ministério da Saúde.
O governo federal também divulgou a elaboração de uma nota técnica com orientações para a metodologia de análise laboratorial, vigilância e a assistência em saúde sobre condutas recomendadas para gestantes e recém-nascidos com sintomas compatíveis com a doença. O material será encaminhado a estados e municípios.
Os oito casos em investigação são em Pernambuco, Bahia e Acre. “Quatro casos evoluíram para óbito fetal e quatro casos apresentaram anomalias congênitas, como a microcefalia. As análises estão sendo feitas pelas secretarias estaduais de saúde e especialistas, com o acompanhamento do Ministério da Saúde, para concluir se há relação entre Oropouche e casos de malformação ou abortamento”, disse a Saúde.
Mortes
Na semana passada, foram registrados dois óbitos por febre Oropouche no interior da Bahia, que estavam sob investigação. Essas foram as primeiras confirmações do país. As vítimas eram mulheres com menos de 30 anos e sem comorbidades. Elas apresentaram sintomas semelhantes aos de dengue grave.
De acordo com o Ministério Saúde, não havia registro na literatura científica mundial de mortes por conta da doença. Outro caso semelhante é investigado em Santa Catarina. A pasta fez um alerta para o aumento e a disseminação da infecção no Brasil em maio, pois o número de diagnósticos da doença quintuplicou entre 2023 e 2024.
Segundo o governo, nos próximos dias, será publicado o Plano Nacional de Enfrentamento às Arboviroses, incluindo dengue, zika, chikungunya e Oropouche. No mês passado, o Ministério publicou duas notas técnicas voltadas para gestores estaduais e municipais envolvendo a febre. Uma delas recomenda intensificar a vigilância de casos e alerta para a possibilidade de transmissão vertical da doença — que acontece quando o vírus é transmitido da mãe para o bebê, durante a gestação ou no parto.
A Seção de Arbovirologia e Febres Hemorrágicas do Instituto Evandro Chagas analisou amostras de soro e líquor armazenadas na instituição, coletadas para investigação de arboviroses e negativas para dengue, chikungunya, zika e vírus do Nilo Ocidental. Nessa pesquisa, foi detectado em quatro recém-nascidos com microcefalia a presença de anticorpos contra o vírus da febre do Oropouche.
“Essa é uma evidência de que ocorre transmissão vertical do vírus, porém limitações do estudo não permitem estabelecer relação causal entre a infecção pelo vírus durante a vida uterina e malformações neurológicas nos bebês”, destacou o documento.
Em julho, a investigação laboratorial de um caso de óbito fetal com 30 semanas de gestação identificou material genético do vírus da febre do Oropouche em sangue de cordão umbilical, placenta e diversos órgãos fetais, incluindo tecido cerebral, fígado, rins, pulmões, coração e baço.
“Essa é uma evidência da ocorrência de transmissão vertical do vírus. Análises laboratoriais e de dados epidemiológicos estão sendo realizadas para a conclusão e classificação final desse caso”, informou o Instituto Evandro Chagas.
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