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Os desafios do Brasil com o envelhecimento acelerado da população

Em menos de 20 anos, um gigante chamado Brasil vai começar a encolher. O aumento populacional do país chegará ao ponto de inflexão em 2041, quando contaremos com 220,5 milhões de habitantes. A partir do ano seguinte, esse contingente tende a apresentar uma queda. É o que revela a pesquisa Projeções das Populações do Brasil e Unidades da Federação, divulgada ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

O estudo do IBGE também atualizou a expectativa de vida dos brasileiros, que está em 76,6 anos. O Distrito Federal é a unidade da Federação que atingiu o maior patamar, com uma expectativa de 79,7 anos.

Segundo as projeções divulgadas ontem, a população do Brasil vai continuar crescendo pelos próximos 17 anos, mas com taxas cada vez menores. A partir de 2042, começa a redução populacional. Essa redução ocorre seis anos antes do previsto pelo IBGE, em 2018. Esse fenômeno acontece porque a taxa de natalidade está em queda desde 1960, em razão de um conjunto de fatores.

Entre os fatores elencados para a redução de taxa de natalidade, especialistas apontam o uso de métodos contraceptivos, maior nível de escolaridade, a urbanização e mudanças na percepção cultural sobre o tamanho médio de uma família. Segundo a demógrafa do IBGE Izabel Marri, nos anos 1960, a quantidade de filhos por mulher era de 6,5. Atualmente, está em 1,57.

Envelhecimento

Paralelamente à queda da natalidade, observa-se um envelhecimento populacional no Brasil. De acordo com as projeções do IBGE, pessoas com 60 anos ou mais vão compor mais de um terço da população (37,8%) até 2070. Em 2000, essa faixa etária não chegava nem a 10% do total. Atualmente, os idosos respondem por 15,6%, praticamente o dobro de 2000 (8,7%). E a expectativa de vida vai ser de 83,9 em 2070, enquanto a idade média da população passará a ser de 48,4 anos.

Professor do Departamento de Demografia da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Bernardo Lanza Queiroz alerta que o sistema previdenciário não está preparado para receber essa transição demográfica. “Nos moldes atuais, o aposentado é pago com o que é arrecadado, e isso não se sustenta a longo prazo, por conta da redução geral da força de trabalho”, comenta.

Para que a aposentadoria seja um recurso acessível e seguro para uma população envelhecida, o professor defende que é necessário traçar estratégia funcional que inclua aumento da vida laboral, aumento da produtividade e aumento da força de trabalho. Para que esse futuro se torne uma realidade, o país precisa de políticas públicas que priorizem o desenvolvimento e investimento em educação e tecnologia.

Política Nacional do Idoso

Algumas dessas propostas foram incluídas na Política Nacional do Idoso, criada em 1994 pela Lei nº8842, como lembra a juíza auxiliar da Corregedoria da Justiça do DF, Monize Marques (leia entrevista ao lado). Adequar currículos, inserir conteúdos voltados para o processo de envelhecimento nos programas educacionais, criar universidade aberta para a terceira idade, e, inclusive, eliminar preconceitos estão entre as exigências. Mas a prática é bem diferente.

O etarismo, discriminação direcionada a pessoas com base na sua idade, ainda é um componente que dificulta a reinserção da população idosa no mercado de trabalho como aponta os especialistas. É preciso romper as barreiras do etarismo. “Até quando deveremos aguardar a efetiva implementação (da Política Nacional do Idoso)?”, indaga a juíza, que também é coordenadora da Central Judicial do Idoso no Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios (TJDFT).

Em 2043, o decréscimo será sentido a nível nacional, embora os estados apresentem diferentes momentos de inflexão, isto é, o ano em que a curvatura do gráfico começa a cair. Além da natalidade e do envelhecimento, a demógrafa do IBGE Izabel Marri aponta a migração de brasileiros entre os estados da federação como mais uma influência no resultado das populações.

Camila Curado

 

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