“Eu sou vanilla [termo para usado para descrever o sexo convencional], amor. Eu te sufoco, mas não sou um assassino, amor”, diz Jack Harlow em sua música “Lovin’ On Me”, um hit de 2023. De acordo com uma pesquisa realizada com mais de 2 mil pessoas e publicada em dezembro pelo Instituto para Abordagem do Estrangulamento (IFAS), uma organização de caridade, mais de um em cada três pessoas entre 16 e 34 anos já foram estrangulados durante o sexo consensual ao menos uma vez, no Reino Unido.
O IFAS foi criado com financiamento do Home Office, o Ministério do Interior do Reino Unido, em 2022, quando o estrangulamento não fatal passou a ser considerado um delito específico na Inglaterra e no País de Gales. Antes disso, os crimes que envolviam tal ato geralmente eram enquadrados como agressão comum, categoria que também incluía atos como sacudir o punho para alguém ou proferir palavras ameaçadoras.
Apesar dos perigos, o estrangulamento sexual —ou “sufocamento”, pelo seu nome mais amigável —parece ser difundido. Refere-se à obstrução ou compressão das vias aéreas e vasos sanguíneos no pescoço por pressão externa, geralmente uma mão. A privação de oxigênio ao cérebro é conhecida por induzir sentimentos de euforia. Uma pesquisa na Austrália descobriu que a maioria encontrou tal estrangulamento pela primeira vez em pornografia online.
A pesquisa do IFAS investigou a qualidade do “consentimento“. Descobriu-se que apenas metade daqueles que disseram ter experienciado estrangulamento haviam concordado com isso previamente; 17% disseram que nunca haviam concordado. Para que o consentimento seja genuíno, também deve ser informado. No entanto, os perigos não são amplamente conhecidos.
A privação de oxigênio devido mesmo a uma pressão modesta no pescoço pode levar a lesões cerebrais. Danos aos vasos sanguíneos na garganta podem causar coagulação e, em última análise, um acidente vascular cerebral —semanas ou meses depois. Um meta-estudo em 2020 sugeriu que o estrangulamento pode ser a segunda causa mais comum de acidente vascular cerebral em mulheres britânicas com menos de 40 anos.
Os dados são, compreensivelmente, escassos. Em 2019, uma pesquisa da BBC com mais de 2 mil mulheres de 18 a 39 anos descobriu que mais de um terço havia experienciado estrangulamento, tapas, mordaças ou cusparadas indesejadas durante o sexo. Segundo um estudo, mulheres que são estranguladas de forma não consensual enfrentam um aumento de sete vezes nas chances de serem assassinadas pelo parceiro.
As vítimas agora têm melhor recurso à lei, pelo menos no papel. Um caso de estrangulamento normalmente leva cerca de três anos para chegar ao tribunal. Os ativistas dizem que seu trabalho acaba de começar. Embora tenham soado o alarme sobre o estrangulamento sexual há vários anos, a pesquisa do IFAS é o primeiro grande estudo britânico sobre sua prevalência.
O instituto deseja conduzir pesquisas mais detalhadas e (como a recente campanha Breathless na Austrália) aumentar a conscientização sobre os riscos da prática entre os mais propensos a experienciá-la. Mas isso exigirá dinheiro. E apesar da promessa do governo trabalhista de reduzir pela metade a violência contra mulheres dentro de uma década, o dinheiro pode ser escasso.
Texto publicado originalmente aqui.
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