Contratada há quase dois anos, a obra de drenagem para amortecer as cheias do rio Tietê no extremo leste de São Paulo deveria ter sido entregue em setembro de 2023, mas sucessivas suspensões do contrato paralisaram a execução por mais de um ano e a intervenção ainda não foi concluída.
A construção do pôlder da Vila Seabra foi anunciada pela gestão do prefeito Ricardo Nunes (MDB) no início daquele ano como uma das principais ações no combate às enchentes na área da cidade que sofre com alagamentos no período de chuvas por estar na várzea do rio.
O pôlder é uma estrutura usada para combater as inundações em localidades construídas na beira de rios, caso do Jardim Pantanal, que está debaixo d’água desde sábado (1º), em meio às chuvas na cidade de São Paulo, que já chegaram a 65% do volume previsto para o mês de fevereiro, segundo a Defesa Civil estadual.
O problema recorrente é explicado pelo fato de as construções estarem no mesmo nível do Tietê e, a cada período de chuvas, o leito sobe e invade as casas, deixando os moradores ilhados por dias seguidos. Um agravante é o traçado desse trecho do rio, sinuoso, o que dificulta o escoamento da água.
Por isso, a solução escolhida para a região foi a construção de um pôlder. Orçado em R$ 6,5 milhões, o projeto inclui a construção de um muro de contenção de 4 metros de altura anexado a um reservatório com capacidade para absorver a água excedente e direcioná-la para o córrego Lajeado.
Assinado em abril de 2023, o contrato previu cinco meses de execução e, portanto, a obra deveria ter sido finalizada em setembro daquele ano. A primeira suspensão ocorreu três meses depois por falta de estudos de impacto ambiental para a construção do reservatório na Vila Seabra, bairro vizinho ao Jardim Pantanal.
Em outro momento, a construtora contratada argumentou que a descoberta de um veio d’água, que fazia pressão na lateral do reservatório, demandava uso de bombas e comprometia metade do período de trabalho diário.
Com os aditamentos, o valor do contrato subiu para R$ 8,5 milhões. Além de atualizar os valores previstos no início de 2023, o acréscimo inclui “serviços complementares”, como “desassoreamento e remoções de lodo brejoso/sedimentos existentes deste córrego, com o objetivo de afundamento e aumento do volume do córrego para melhorar a eficiência do sistema de retardo das cheias”.
Em nota, a gestão Nunes não comentou o atraso na entrega da obra de drenagem, e ressaltou que no ano passado foram retiradas 36 toneladas de detritos dos córregos da região.
Habitado desde o início dos anos 1980, o Jardim Pantanal se tornou mais conhecido no fim de 2009, quando começou um alagamento histórico que durou 40 dias.
Diante de mais um alagamento e sem previsão de normalizar a rotina dos moradores, o prefeito defendeu incentivos para que as famílias deixem o local. Seu antecessor, o prefeito Bruno Covas (PSDB), morto em maio de 2021, chegou a sugerir um projeto para elevar as residências acima do nível do rio, mas não foi adiante.
A ideia, segundo Nunes, é oferecer o que chamou de ajuda financeira de R$ 20 mil a R$ 50 mil para que os moradores deixem suas casas para serem demolidas.
A gestão também citou construções irregulares às margens do Tietê como um dos fatores que contribuiu para o alagamento. Um escritório foi construído de maneira irregular após caminhões de terra terem coberto parte do rio. O imóvel foi interditado e o proprietário foi multado em R$ 660 mil, segundo a administração municipal.
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