As mudanças climáticas extremas vivenciadas desde o ano passado colocaram o planeta em estado de alerta máximo. Segundo a Organização Meteorológica Mundial (OMM), 2023 é considerado o mais quente em 174 anos de medições meteorológicas, superando 2016, com 1,29°C acima da média, e 2020, com 1,27°C a mais que o normal. Apesar dos esforços para minimizar os efeitos da crise, 2024 deve ser ainda mais preocupante, em consequência das alterações ambientais em curso somadas ao fenômeno El Niño, de aquecimento das águas do Pacífico.
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O último ano foi marcado por temperaturas acima de 40°C em dez estados brasileiros. Pesquisadores apontam que as recentes ondas de calor são resultado das emissões de gases de efeito estufa com as combinações do efeito do El Niño. Os cientistas alertam que a ocorrência de eventos extremos causam perdas materiais e afetam a saúde, podendo provocar a morte.
“Apesar de ser um El Niño forte, esse calor, esse ciclo que a gente tem experimentado é fruto das alterações climáticas provocadas a partir da revolução industrial. Não à toa, a gente está registrando o ano mais quente de 2023 da história das medições desde 1850”, explicou o professor Paulo César Zangalli, do Departamento de Geografia da Universidade Federal da Bahia (UFBA).
Camila Carpenedo, coordenadora do Núcleo de Estudos sobre Variabilidade e Mudanças Climáticas (Nuvem) e professora da Universidade Federal do Paraná (UFPR), chama atenção para a quantidade de eventos extremos que ocorreram no Brasil no ano passado. “Vimos um número expressivo de eventos extremos, tivemos nove ondas de calor confirmadas no país e, em novembro, tivemos o recorde de temperatura registrada em estação meteorológica — que foi de quase 45 graus em Minas Gerais”, observou.
Estados sob alerta
Em 2023, os estados do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina foram castigados pelos efeitos dos ciclones extratropicais que ocasionaram dezenas de mortes, e em perdas materiais sem precedentes. Um levantamento da Confederação Nacional dos Municípios (CNM) revelou que os danos totais da região Sul foram avaliados em R$ 28,2 bilhões, com perdas decorrentes desde a seca do início do ano até as chuvas recentes, e impacto maior no agronegócio.
O aquecimento do Oceano Atlântico e os efeitos do El Niño anteciparam o período da estação seca e produziram uma estiagem extrema no Amazonas, que secou os rios e fez com que 60 municípios entrassem em estado de emergência. De acordo com a Defesa Civil, 600 mil pessoas foram impactadas diretamente. O caos atingiu as comunidades rurais, prejudicou a lavoura e o sustento dos ribeirinhos.
A professora do departamento de Geografia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Núbia Beray Armond aponta que, mesmo após a virada do ano, o Brasil deve vivenciar novos eventos climáticos extremos. “Mesmo que a gente tenha um El Niño se dissipando rápido, ainda vamos ver alguns efeitos acontecendo por algum tempo na América do Sul. Até março e abril vamos ter os impactos [do fenômeno]”.
Para 2024, a agência NOAA (National Oceanic and Atmospheric Administration, em inglês) indica o surgimento de um novo fenômeno climático: La Niña. “Alguns cientistas trouxeram alguns modelos bem robustos sobre a previsão de La Niña, principalmente da transição do final do primeiro semestre para o segundo. Mas, até então, era especulação, agora a NOAA soltou que tem 60% de chance da gente virar para uma La Niña no segundo semestre”, disse Armond.
*Estagiária sob supervisão de Luana Patriolino
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