Quando entrou para jogar, em Belo Horizonte, contra o Atlético-MG, o Athletico já estava rebaixado. Não conseguindo disfarçar ser um doente terminal, só tinha a consciência de que viveria o último dia de agonia na elite do Brasileirão.
Para seu rebaixamento não se pode oferecer o consolo da compreensão que se dá ao Criciúma, Atlético-GO e Cuiabá, seus companheiros de desgraça. Pobres, têm que lutar pelo pão de cada dia.
Ao contrário, milionário, com dinheiro saindo pelo ladrão, vivendo no ambiente de concreto e de luxo que a sua torcida construiu e que continua pagando, para si não há esse conforto da pobreza.
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A análise crítica vai estabelecer um padrão, caindo na generalidade. Por medo ou compromisso, prefere individualizar os executores do momento: o treinador Lucho González, o diretor técnico Paulo Autuori e os jogadores.
E, limitar-se à expressão “diretoria”, quando sabe que todos – Márcio Lara, Agnaldo Coelho de Farias, Rodrigo Gama Monteiro, Mauro Holzmann e Paulo Miranda – são apenas executores de um único interesse e de uma única vontade. Ganham e ganham muito bem.
Não me filio à esse padrão de crítica, embora seja baseada em fatos verdadeiros. Mas a responsabilidade e a culpa exclusivas são do presidente Mario Celso Petraglia. Entre tantas facetas, a mais surpreendente é essa última: a de considerar-se imortal.
Ainda que, com o corpo e com a vaidade feridos pela enfermidade que o maltrata há quatro anos, não teve a sensibilidade de transferir o poder. Se não confiava em nenhuma de suas criações, Marcio Lara e Gama Monteiro, em especial, tinha obrigação de pedir socorro aos atleticanos que com ele criaram esse novo Athletico, a partir de 1995. Todos conselheiros e atleticanos sem mágoas. Bastava chamá-los e eles iriam.
Mas, por sempre supor ter superioridade moral e intelectual sobre 2 milhões de atleticanos, preferiu rebaixar o Athletico. Isso chama-se arrogância.
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Ao incentivar, primeiro com atos, a contratação dos técnicos Martín Varini, e depois, Lucho González, e depois com omissões, pode estar fechando com a página negra do rebaixamento sua história que tanto exalta.
Mas tudo isso, e até o rebaixamento, seriam fatos de pouca relevância diante da grandeza do Athletico. As coisas não são tão simples, assim.
Na Grécia das tragédias e da mitologia, existia Pandora, uma mulher, cujo maior traço de personalidade era o de ser curiosa. Então, Zeus deu a ela uma caixa e pediu para não abri-la – sabendo que abriria.
E Pandora abriu-a, liberando todas as desgraças que estavam previstas para a humanidade. Só no fundo havia um resto de esperança.
A caixa de Pandora é a perfeita metáfora para explicar esse Athletico que Petraglia rebaixou para fazer companhia ao coxas na Segunda Divisão.
Confesso meu temor de que o rebaixamento seja apenas a primeira desgraça que estava guardada na Pandora do Furacão. Há lógica nesse temor pelo fato de que pela primeira vez que foi desafiada, a estrutura gerencial do Athletico fracassou.
Talvez o pior, considerando que tudo o que se refere ao Furacão é maior por ser por dinheiro e não por ideias, esteja por vir.
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