No Dia Mundial da Liberdade de Imprensa, comemorado ontem, o levantamento anual da organização não governamental Repórteres Sem Fronteiras (RSF) mostra que o Brasil avançou 10 posições no ranking que mede a liberdade de atuação dos jornalistas em 180 países. O país ocupa o 82º lugar, melhor marca dos últimos dez anos.
Segundo a organização, que elabora o estudo desde 2002, o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) obteve progressos na “normalização das relações com a imprensa”, após o fim do mandato de Jair Bolsonaro (PL). A Repórteres Sem Fronteiras classifica o período que compreende o governo passado como “de escalada de tensões” com a imprensa.
No governo de Bolsonaro, ataques a jornalistas desempenhando sua função aumentaram pelo país, com casos de violência física e verbal. O próprio presidente limitava o acesso para a cobertura jornalística no Palácio do Planalto e nos ministérios e motivava o confronto com veículos de comunicação.
Em 2021, o Brasil chegou a cair para a chamada “zona vermelha”, ocupada pelos países em “situação difícil”, quarto pior grupo do ranking, atrás somente da “situação grave”.
No novo levantamento, o Brasil permanece no grupo considerado “sensível”, mesmo em que estava nas edições de 2023 e antes de passar para a zona vermelha. No mesmo grupo também estão Argentina, Guiana, Chile e Uruguai, e países do norte global, como Polônia, Itália e Estados Unidos.
A Argentina, sob o comando de Javier Milei, caiu 26 posições no ranking das Américas, a pior queda do continente. Na América Latina, os mais mal colocados são Cuba, Venezuela e Nicarágua, países sob regimes autoritários. Segundo a ONG, o problema da região está concentrado na cobertura de assuntos relacionados com o crime organizado, a corrupção e o meio ambiente, que podem acarretar sérias represálias aos profissionais de imprensa.
Os outros grupos são os com situação “relativamente boa”, onde figuram países, como Alemanha, França e Costa Rica; e “boa situação” no topo, com Noruega, Dinamarca e Suécia liderando o ranking.
Ameaça política
“Os Estados e as forças políticas, independentemente de suas tendências políticas, desempenham cada vez menos um papel na proteção da liberdade de imprensa. Essa falta de responsabilização, às vezes, caminha de mãos dadas com um questionamento do papel dos jornalistas, ou mesmo a instrumentalização dos meios de comunicação em campanhas de assédio ou desinformação”, afirmou a organização.
Dos cinco indicadores medidos, o que mais caiu na atual edição foi o político, com queda global de 7,6 pontos. Para a ONG, essa pontuação mostra que “a liberdade de imprensa está ameaçada pelas mesmas pessoas que deveriam ser os seus garantidores: as autoridades políticas”. Em três quartos dos países considerados no ranking, a maioria dos respondentes relata o envolvimento regular de políticos em campanhas de desinformação.
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