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Garçom junta lacres de latinhas para doar cadeiras de rodas

Esbanjando disposição, o garçom Gedison Oliveira recolhe lacres de alumínio de latinhas há 10 anos, onde quer que esteja trabalhando, e incentiva que restaurantes se unam pela ação. Ele conta que é garçom desde quando as latinhas nem existiam, mas, certo tempo depois, percebeu que algumas pessoas começaram a guardar seus lacres e procurou se informar a respeito. “Fiquei sabendo que poderiam ser trocadas por cadeiras de rodas e que isso ajudaria muitas pessoas”, lembra. 

Gedison diz que não tem ideia de quantas já doou, mas que diz foram muitas. “Eu colocava os lacres em garrafas de água porque ficava melhor para armazenar e levar na Copasa. O ponto de recolhimento era ao lado do bar em que eu trabalhava na época”. Ele também comenta que, depois disso, passou a distribuir essas garrafas para alguns alunos de escolas que faziam parte desse tipo de campanha, além de outras pessoas que também diziam recolher o material. 

“Enquanto estava nos restaurantes, eu acabava reparando quando as pessoas pegavam o lacre e perguntava se gostariam de levar as minhas garrafas, foi o jeito que achei de ser um pouquinho mais solidário, mas é muita luta para recolher e sempre acho que estou incomodando” Assim, mesmo com resistência, passou a pedir, oferecer e também ser procurado por isso. “Em um local que trabalhei há um tempo atrás, tinha uma senhora que ia lá toda semana para buscar os lacres”, diz.

Uma vez, o garçom viu um certo senhor na rua com uma cadeira de rodas que continha o símbolo do “Lacre do Bem”, não resistiu e teve que ir até ele perguntar sobre. O homem disse que havia conseguido a cadeira através das doações. “Depois disso, comecei a juntar de novo com mais carinho, com mais amor, com mais intensidade. Algumas pessoas realmente não sabem o valor de um lacre”.

 

"Algumas pessoas realmente não sabem o valor de um lacre"

“Algumas pessoas realmente não sabem o valor de um lacre”

Divulgação/Lacre do Bem

E se os restaurantes se unissem?

Não há lugar mais acertado para uma campanha de doação de lacres do que em meio a restaurantes e bares, que vendem inúmeras latinhas por dia. Por isso, o garçom Gedison Oliveira manifesta sua vontade de que esses locais priorizem o recolhimento dessas peças de alumínio. 

Garçom pede que restaurantes se unam para recolher lacres de latinhas

Garçom pede que restaurantes se unam para recolher lacres de latinhas

Marcos Vieira/EM

“Pequenas coisas são muito, imagina se todos os restaurantes conseguissem se mobilizar para isso, o tanto de gente que seria ajudada”, ele destaca.

Ligia Paula é sócia proprietária de um bar na capital mineira que faz parte da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel). Ela tem um balde com o selo do “Lacre do Bem” disponível no balcão para a doação dos lacres, mas afirma que foi uma iniciativa própria de seu estabelecimento e não da associação.

Consultada pela reportagem, a Abrasel respondeu que realmente não há esse incentivo específico de recolhimento de lacres, mas que é um movimento possível. A presidente Karla Rocha comenta que o assunto será inserido no grupo de associados e em reuniões. “É um trabalho social que não demanda esforço da nossa parte”. 

 

Ela reitera que pode pensar em uma maneira de isso se tornar visível aos clientes, para que se mobilizem separando seus lacres. “Talvez pelas redes sociais ou um trabalho visual nos próprios locais, evitando que os lacres sejam jogados no lixo”, explica.

O “Lacre do Bem”

O “Lacre do Bem” existe desde 2013 e começou com Júlia Macedo, na época uma criança de apenas nove anos. O projeto está em 14 estados e no Distrito Federal e só em Belo Horizonte são cerca de 680 pontos de coleta.

Perguntados sobre o processo, a organização respondeu que, após a coleta, os lacres vão para um galpão onde é feito o beneficiamento manual deles e, assim, são preparados para a indústria. Isso acontece para que apenas lacres de latinhas sejam separados. Quem participa desse processo, além dos voluntários, são cumpridores de penas alternativas.

Os lacres doados são vendidos para uma indústria, que recicla esse material de alumínio, e é com o recurso da compra que as cadeiras podem ser compradas. Ou seja, os lacres não “viram” cadeiras de rodas, é com a venda deles que elas podem ser compradas. Eles explicam, também, que as latas não são recolhidas, somente os lacres de metal. Isso se dá para que famílias que vivem da reciclagem não sejam afetadas.

Depois disso, um caminhão é contratado e as peças são transferidas para as grandes ecobags, onde cabem cerca de meia tonelada. Elas são levadas para a indústria, que derrete todo esse alumínio e o recicla. 

 

Confira o processo

Confira o processo

Reprodução/Lacre do Bem

Para uma cadeira é preciso 140 garrafas de 2L cheias de lacres, o que equivale a aproximadamente 2.590 em cada uma. O cadastro dos locais pode ser feito pelo link no site da organização. Depois, o estabelecimento recebe a logomarca do “Lacre do Bem” e fica responsável por desenvolver a sua “urna”, local onde serão depositados os lacres. 

Eles ressaltam que vários garçons ajudam Júlia desde quando ainda era pequena e a ONG está sempre em busca de novos bares, restaurantes, redes de supermercado ou qualquer outro tipo de estabelecimento para abraçar o projeto, que hoje conta com 82 pessoas na lista de espera por uma cadeira. Até o momento, foram doadas 964 delas por meio da coleta dos lacres de latinhas.

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