Além de prejudicar o trânsito, o furto de fios de cobre e de controladores semafóricos nos sinais da capital mineira tem prejudicado também os cofres públicos. De acordo com a Prefeitura de Belo Horizonte (PBH), em 2023 foram gastos R$ 2.262.466,62 para o reparo. O roubo dos itens essenciais para o funcionamento dos sinais é o principal motivo apontado para o alto valor gasto com as manutenções.
Na capital mineira existem 1.106 cruzamentos semaforizados, distribuídos nas noves regionais e os cabos compostos por cobre presentes nas sinalizações das ruas já são uma antiga preferência dos ladrões, que roubam o material para a venda em ferros-velhos. Em 2023, o cenário foi diferente, já que o principal item roubado e responsável por aumentar os gastos da prefeitura com a manutenção dos sinais, foram os controles semafóricos. Esses equipamentos permitem a programação do sinal, como o tempo de abertura e fechamento, e foram definidos por Júlio da Conceição, gerente de Semáforo e Programação da BHTrans, como o “coração dos semafóros”.
“É um cenário atípico, foram 64 controladores roubados e o valor de cada um, em média, é 32 mil reais, o que aumenta bastante o que é gasto com manutenção mas, geralmente, não acontece neste volume”, explica.
Já o roubo de cabos diminuiu. Em dezembro de 2023, cerca de 300 metros de cabos foram roubados, o que pode parecer muito se não for comparado com o ano anterior. Em 2022, a quantidade de fiação roubada em um único mês chegou a 13 mil metros. “Uma das ações que a BHTrans instituiu para coibir esse tipo de roubo é a instalação de cabos bimetálicos, que é uma fiação de aço banhado no cobre, o que não tem (valor) atrativo. Por causa disso, o roubo caiu bastante”, afirma Júlio.
O cenário que preocupa agora é o roubo dos controladores, cuja motivação ainda é estudada pela BHTrans e outros órgãos. “A gente ainda não entende muito o porquê desse cenário e tentamos achar uma explicação. Pode ser que exista algum mercado clandestino mas, nós da BHTrans, não temos conhecimento. Alguns controladores têm as placas de potência e a CPU retiradas, mas são equipamentos que funcionam apenas em semáforos. Nós e a própria inteligência da polícia fazemos um estudo para entender essa situação”, explica.
Entre os principais prejuízos para a população do roubo de cabos e controladores semafóricos está o congestionamento do trânsito causado pela manutenção necessária após a ação dos ladrões. De acordo com a PBH, o tempo gasto, em média, para o restabelecimento de um semáforo em pane é de até 1h30, quando o problema está no equipamento. “Uma falha no sistema eletrônico, por exemplo, pode ser corrigida mais rapidamente de forma on-line. Nos casos de furtos ou abalroamentos, dependendo do dano e da extensão do prejuízo, o tempo para reposição do material e retorno da operação pode ser maior”, explicou a prefeitura.
Ainda de acordo com o Executivo municipal, existe uma equipe de manutenção semafórica da BHTrans que atua diariamente nas vias da cidade 24 horas por dia. “As ocorrências encontradas são solucionadas ou providências são adotadas para que a correção possa ser feita o mais breve.”, destacou.
Medidas para coibir os roubos
Além da BHTrans, a Guarda Civil Municipal e outros órgãos são responsáveis pelo monitoramento em caso de roubos e furtos de cabos ou controladores semafóricos. Entre as ações instituídas, encontra-se o Projeto de Metodologia Ágil de Solução de Problemas (MASP), que é aplicado na capital sob coordenação do Centro Integrado de Operações de Belo Horizonte (COP-BH). Nele, atuam de forma conjunta a BHTrans, a Guarda Municipal, as polícias Militar e Civil, a Subsecretaria de Fiscalização (SUFIS), a Superintendência de Limpeza Urbana (SLU), e a Cemig, com a parceria da Operadora OI.
“O Projeto MASP possibilita o compartilhamento imediato das informações relacionadas a ocorrências de furtos de cabos, para envolver, de forma ágil, todos setores afetados na solução do problema gerado por ele. Isso permite sanar a consequência, seja a da falta de sinalização semafórica (com a BHTRANS emitindo alertas semafóricos para evitar congestionamentos e acidentes) ou da queda da energia (quando se trata de cabos da Cemig), por exemplo.”, explicou, através de nota, a Secretaria Municipal de Segurança e Prevenção (SMSP).
Ainda assim, Júlio destaca que a prisão dos responsáveis por furtos de cabos e controladores ainda é difícil. “Nós temos a central que detecta quando o roubo acontece. Assim que soa o alarme, a Guarda Municipal é acionada e imediatamente envia uma viatura até o local. No entanto, no tempo de deslocamento dos agentes o autor do crime já evadiu, porque é um tipo de furto muito rápido”, explica.
Outra medida, já mencionada pelo gerente de Semáforo e Programação da BHTrans, é a troca dos cabos de energia elétrica dos semáforos de Belo Horizonte por fios sem atratividade. O objetivo da medida, que vem sendo implementada desde maio de 2022, é combater uma série de furtos de cabeamento na capital. Após a ação, a prefeitura afirma que os gastos com a reposição de cabos vem reduzindo gradativamente. A substituição tem sido feita de maneira gradativa.
“Além disso, a gente ainda tem colocado os controladores de semáforo em uma posição mais alta para impedir o roubo, o que dificulta nossa ação na manutenção, já que passa a exigir equipamentos mais específicos. Já as caixas de passagem, onde ocorre a conexão dos cabos, têm sido concretadas e seladas, isso tem dificultado a ação dos ladrões”, explica Júlio. “Nós procuramos sempre fazer a manutenção o mais rápido possível a partir do furto, para que o cidadão não fique prejudicado com o semáforo desligado. Temos procurado cada vez mais diminuir esse tempo de atendimento às ocorrências”, finaliza o gerente de Semáforo e Programação da BHTrans.
MPMG avalia impactos do furto de cabos
Outra maneira de prevenir os furtos de cabos de energia e de transmissão está sendo realizada pelo Ministério Público de Minas Gerais (MPMG), que promove um levantamento de dados sobre os impactos causados pelas ações criminosas em Minas Gerais.
O MPMG realizou, no último dia 20, uma reunião com a Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig), a Conexis Brasil Digital (Associação das Empresas de Telecomunicações e de Conectividade), a Associação Mineira de Supermercados (Amis) e a Associação Brasileira de Redes de Farmácias e Drogarias (Abrafarma).
No encontro, foram discutidas as consequências das subtrações de cabos de energia no estado. Isso porque o crime pode prejudicar o funcionamento de semáforos, hospitais e serviços públicos, além dos afazeres e trabalho de milhares de pessoas. Os pequenos furtos que ocorrem em estabelecimentos também foram debatidos no encontro.
O Ministério Público deve recolher o levantamento de dados fornecido por associações representantes de farmácias e supermercados até o dia 12 de abril. Em paralelo, o MP realiza ações para coibir o furto de cabos.
O promotor de Justiça e coordenador do Caocrim, Marcos Paulo de Souza Miranda, afirma que existe um interesse público em entender a complexidade da questão e os impactos que podem ser gerados pela subtração de cabos de energia em Minas Gerais.
“O Ministério Público passa a enfrentar (o furto de cabos) não apenas como um crime patrimonial, mas também como um crime que lesa os interesses da sociedade como um todo”, disse o promotor.
De acordo com os dados da Conexis Brasil, em 2023, mais de 848 mil mineiros ficaram sem acesso a serviços de comunicação devido ao furto de cabos, colocando Minas em quarto lugar no ranking de estados com maior quantidade de cabos roubados ou furtados. Foram mais de 500 mil metros de cabos furtados ou roubados.
* Estagiária sob supervisão do subeditor Gabriel Felice
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