O tabagismo é responsável por cerca de 80% dos óbitos por câncer de pulmão em homens e mulheres no Brasil. A constatação é de estudo apresentado, ontem, na 48ª Reunião Anual do Grupo de Epidemiologia e Registro do Câncer em Países de Língua Latina. Porém, o prejuízo causado pelo tabaco não é somente em vidas humanas. Os custos anuais com o tratamento são de aproximadamente R$ 9 bilhões — e os impostos pagos pela indústria do setor cobrem aproximadamente 10% desses gastos.
De acordo com o estudo, a previsão é de um aumento de mais de 65% na incidência da doença e de 74% na mortalidade até 2040, caso o padrão de comportamento em relação ao tabaco não seja alterado. O diagnóstico precoce tem sido a melhor medida para aumentar as taxas de sobrevida e os resultados do tratamento.
“O câncer de pulmão é uma das principais preocupações em saúde pública em todo o mundo. A detecção precoce é crucial na gestão eficaz do tratamento, já que aumenta as chances de ser bem-sucedido. O problema é que a doença, na maioria das vezes, não apresenta sintomas na fase inicial”, explica Luiz Augusto Maltoni, diretor-executivo da Fundação do Câncer e cirurgião oncológico.
Apesar da redução no número de fumantes ao longo dos anos — por conta de campanhas de esclarecimento do governo federal —, atualmente cerca de 12% da população adulta brasileira utiliza algum produto derivado do tabaco. Outro aspecto trazido no estudo é que os pacientes atingidos pela doença chegam ao tratamento em estágios avançados, tanto entre os homens (63,1%) quanto entre as mulheres (63,9%). Tal proporção se verifica em todas as regiões do Brasil.
“É fundamental investir em estratégias de controle do tabagismo e garantir que o paciente tenha acesso rápido ao tratamento, dentro do prazo dos 60 dias previstos em lei. Se nada for feito, o câncer progride, seu custo de contenção aumenta, o paciente enfrenta mais dificuldades e as chances de óbito crescem”, adverte o consultor médico da Fundação do Câncer, Alfredo Scaff.
No Sul, maior incidência
Os números trazidos pelo estudo apresentado na 48ª Reunião Anual do Grupo de Epidemiologia e Registro do Câncer em Países de Língua Latina mostram que a Região Sul apresenta a maior incidência de câncer de pulmão no país, tanto em homens quanto em mulheres. Com taxas de 24,14 casos novos a cada 100 mil homens e de 15,54 casos novos a cada 100 mil mulheres, a região supera a média nacional de 12,73 casos para homens e 9,26 para mulheres.
Isso pode ser explicado porque as grandes plantações de fumo estão no Sul. Na safra 2018/19, o tabaco foi produzido em 557 municípios dos três estados da região e alcançaram aproximadamente 665 mil toneladas, conforme as estatísticas da Associação dos Fumicultores do Brasil (Afubra).
Dos 30 municípios com a maior produção, o ranking mostra que 16 são gaúchos, nove são catarinenses e cinco são paranaenses. De acordo com o levantamento, na Região Sul se observa o maior índice de mortalidade entre homens, em todas as faixas etárias — entre 40 e 59 anos verifica-se a maior concentração de casos de câncer de pulmão.
O estudo aponta que, independentemente da região do país, a maioria dos pacientes diagnosticados com câncer de pulmão tinha apenas nível fundamental de escolaridade. Esse dado sugere uma possível correlação entre o nível educacional, o acesso aos cuidados de saúde preventivos e ao conhecimento sobre os riscos associados ao tabagismo.
Há ainda uma preocupação em relação às estratégias da indústria do tabaco para não perder público — que vem investindo nos chamados “cigarros eletrônicos”. Segundo a Inteligência em Pesquisa e Consultoria (Ipec), quase 3 milhões de adultos usam os chamados “vapes” no Brasil.
Em 24 de abril, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) manteve a proibição dos cigarros eletrônicos, depois de consulta pública. Os cinco diretores da instituição votaram para que a restrição à importação — inclusive para uso próprio — e venda desses produtos, em vigor desde 2009, continuasse.
*Estagiária sob a supervisão de Fabio Grecchi
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