O Amazonas declarou, no último domingo (4/3), que está passando por um surto da febre oropouche. Até o fim de fevereiro, o Estado já havia registrado 1.674 casos de febre oropouche, um aumento de 68% dos casos reportados no mesmo período do ano passado.
Apesar de os casos da doença se concentrarem na região norte do país, na última semana, um caso foi registrado no Rio de Janeiro pelo Instituto Oswaldo Cruz em um paciente com histórico de viagem para Manaus.
Esse foi o primeiro caso da doença diagnosticado no Estado.
A confirmação acendeu um alerta de que é preciso redobrar a atenção aos cuidados com o vírus e a prevenção contra mosquitos.
“O mosquito maruim, principal transmissões da doença, pode ser encontrado em vários Estados, a diferença é que ele não está infectado com o vírus. Se essa infecção acontecer, a doença pode se espalhar para outras áreas”, diz o infectologista Luiz Tadeu Moraes Figueiredo coordenador do Centro de Pesquisa em Virologia da USP de Ribeirão Preto e membro da Sociedade Paulista de Infectologia.
Qual o risco de um surto de febre oropouche no Brasil?
O vírus que causa a febre oropouche tem sua circulação principalmente em áreas de florestas, como a região Amazônica devido ao clima úmido. No entanto, ele vem se adaptando às áreas urbanas.
Segundo especialistas ouvidos pela BBC News Brasil, o risco de o país enfrentar um surto da doença é baixo, mas essa hipótese não é descartada.
“O vírus está mais presente na região Norte devido às características do ambiente, como umidade e com grandes áreas de mata. Para se ter um surto no país, como acontece com a dengue, esse vírus teria que se adaptar às outras regiões. Se acontecer, vai demorar”, acrescenta Kobayashi.
Ainda segundo os especialistas, para que um surto aconteça em outras localidades é preciso a combinação de dois fatores como: ter a transmissão importada (vinda através de um paciente infectado na região amazônica) e falha no diagnóstico da doença.
A falta de diagnóstico pode fazer com que o vírus contamine os mosquitos saudáveis de outras localidades, fazendo com que o vírus se espalhe. O mosquito maruim, por exemplo, pode ser encontrado em diversas regiões do país.
“O vírus vem se tornando cada vez mais comum na região Norte e vem migrando rumo ao Sudeste do Brasil com pacientes importados, como o caso do Rio de Janeiro. Por isso é necessário fazer o diagnóstico correto da doença para que o vírus seja identificado e isolado, evitando a proliferação dele”, acrescenta Figueiredo.
“Embora um surto seja uma possibilidade, não é algo iminente”, concluiu Figueiredo.
Entenda em quatro pontos o que é a febre oropuche e como preveni-la.
1. O que é a febre oropouche e como é transmitida?
A febre oropouche é uma doença causada pelo arbovírus Orthobunyavirus, transmitido pela picada de mosquito e pode infectar humanos e animais.
A identificação do vírus no Brasil ocorreu pela primeira vez em 1960, a partir de uma amostra de sangue de uma preguiça capturada durante a construção da rodovia Belém-Brasília.
A doença é transmitida pela picada do mosquito Culicoides paraensis, conhecido popularmente como maruim ou mosquito-pólvora, que está presente tanto em áreas silvestres como em áreas urbanas.
Nas áreas urbanas, o mosquito Culex quinquefasciatus, popularmente chamado de pernilongo ou muriçoca, também pode transmitir o vírus ocasionalmente.
Surtos foram relatados, principalmente nos Estados da região Amazônica.
Também já foram relatados casos e surtos da doença em outros países como Argentina, Bolívia, Equador, Peru e Venezuela.
Um dos surtos, em 2010, que atingiu o Brasil e outros quatro países, a Organização Pan-Americana da Saúde (Opas) descreve que foram afetadas pessoas de ambos os sexos e de todas as idades.
Após picar uma pessoa ou animal infectado, o mosquito permanece com o vírus no sangue por alguns dias. Quando esse mosquito infectado pica uma pessoa saudável, ele transmite o vírus, causando a doença.
Segundo o Ministério da Saúde, existem dois tipos de ciclos de transmissão da doença: ciclo silvestre e ciclo urbano.
No primeiro, os animais como bichos-preguiça e macacos são os hospedeiros do vírus.
Já no ciclo urbano, os humanos são os principais hospedeiros do vírus.
O avanço do desmatamento e as alterações ambientais são identificados como fatores que contribuem para o aumento da incidência da doença, que está progressivamente afetando as áreas urbanas.
2. Quais os sintomas da febre oropouche?
Os sintomas da doença são semelhantes aos da dengue e incluem febre — temperatura entre 38 e 39.5°C —, dor no corpo e nas articulações, calafrios, dor de cabeça, náuseas, vômitos e diarreia. Eles duram, em média, uma semana.
“Apesar de os sintomas serem bem semelhantes ao da dengue, a febre oporouche é bem mais amena e melhora com o passar dos dias”, diz Carla Kobayashi, infectologista do Hospital Sírio-Libanês.
Consequências mais raras incluem complicações neurológicas, como encefalite (inflamação do cérebro) e meningite (inflamação da membrana que reveste o cérebro).
O diagnóstico da doença é feito apenas por exame laboratorial através da coleta de sangue.
3. Qual o tratamento?
Não há um medicamento específico para tratar a febre oporouche, então o tratamento é focado em amenizar os sintomas da doença.
Pode-se usar analgésicos, antitérmicos e medicamentos para enjoo. Não há remédios contraindicados para tratar os sintomas da doença.
Além dos medicamentos, é indicado também que o paciente faça repouso e cuide da hidratação.
Os médicos recomendam que a pessoa infectada use repelente para evitar ser picado por outros mosquitos no período de viremia – circulação do vírus no corpo – evitando que outros mosquitos se infectem com o vírus e a doença se espalhe.
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4. Como controlar o avanço da doença?
Para frear o avanço da doença é indicado que se elimine criadouros do mosquito como locais com água parada e também fazendo uso de repelentes.
Além disso, o Ministério da Saúde recomenda:
- Evitar áreas onde há muitos mosquitos;
- Usar roupas que cubram a maior parte do corpo;
- Manter a casa limpa, removendo possíveis criadouros de mosquitos, como água parada e folhas acumuladas.
Se houver casos confirmados na região, siga as orientações das autoridades de saúde local para reduzir o risco de transmissão, como medidas específicas de controle de mosquitos.
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