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Educadores de Mato Grosso relatam dificuldades em meio à onda de queimadas

Mato Grosso é o estado que mais tem sofrido com os incêndios em 2024. Segundo dados do Programa Queimadas do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), o estado lidera o ranking anual com 40.966 focos de fogo, correspondendo a 21,9% de todo o país.

O estado também está na área de alerta vermelho (não saudável) do índice de qualidade do ar da organização suíça IQAir. Nesta terça-feira (17/9), o governo federal informou que o Ministério da Educação (MEC) está orientando as escolas sobre como lidar com a poluição do ar e os incêndios, para garantia da segurança dos alunos e docentes.

Professor da rede pública em Guarantã do Norte (MT), Joares Ribeiro conta como a fumaça e a névoa seca impactam as instituições onde ele ensina. “A quantidade de fumaça é enorme, você tem dificuldade de enxergar mais de 100 metros à frente. Aí, durante a noite, dá impressão de que ela desce e fica mais difícil que durante o dia. Por conta da colonização e da relação do homem com o meio ambiente, aqui as fumaças não são um elemento totalmente estranho. O fato é que esse ano extrapolou.”

“Eu também trabalho no período noturno e à noite você dura dentro da sala de aula. Você até consegue respirar melhor, por conta do ar condicionado e as portas e vidro fechado, mas do lado de fora a quantidade de fumaça é enorme, gerando tosse, irritação no olho, né?”, completa Joares.

Ana Cristina Freires, coordenadora de uma escola estadual em Vila Bela da Santíssima Trindade, na fronteira com a Bolívia, e presidente da subsede local do Sindicato dos Trabalhadores no Ensino Público (Sintep), relata o mesmo problema que Joares. Na região, ela afirma que há alguns dias a fumaça ainda estava “insuportável”, especialmente no período da noite.

Para tentar contornar a situação, Ana contou que a escola dela tomou medidas, como evitar as aulas práticas de educação física, orientou as crianças e adolescentes a beberem bastante água e criou intervalos menores para evitar que as crianças passassem mal. “O aumento das doenças respiratórias e os perigos da fumaça nos atingiram em cheio. Na escola isso altera as condições de trabalho dos educadores e compromete a aprendizagem, uma vez que ocorrem constantes faltas e saídas no meio das aulas”, explica.

Uma das orientações do MEC foi o incentivo ao uso de máscaras de proteção, como as utilizadas durante a pandemia de covid-19. Ana Cristina e Joares relatam que, apesar de repassar a orientação aos pais, poucos alunos aderiram à sugestão. No entanto, Joares afirma que, na escola onde leciona, ainda há um estoque de máscaras adquiridas durante a pandemia, que podem ser usadas agora.

Em consenso, ambos os educadores também afirmam ter notado uma queda no rendimento dos alunos e uma alta no número de faltas e saídas mais cedo das escolas, com queixas de estarem passando mal. “A escola faz o que pode. Entramos em contato com os pais imediatamente. Somos professores, nem sempre estamos preparados para atender a contento quando o assunto é saúde pública”, afirmou a coordenadora.

Ana ainda relata dificuldade em planejar ações que ajudem os alunos de baixa renda. “Os meninos e meninas de baixa renda de nosso município contam com a sorte. Infelizmente, não nos preparamos para o aumento intenso das queimadas”, lamentou.

A Secretaria de Estado de Educação do Mato Grosso (Seduc-MT) foi procurada para comentar sobre a situação das escolas em meio à crise climática e não deu retorno. O espaço segue aberto para esclarecimentos.

*Estagiário sob supervisão de Pedro Grigori

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