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Dois fazendeiros são presos por morte de líder indígena na Bahia

Dois fazendeiros foram presos ontem por suspeita de matar a tiros a líder indígena Maria Fátima Muniz de Andrade, conhecida como ‘Nega Pataxó’, do povo Hã-hã-hãe. O crime ocorreu no território Caramuru, em Potiraguá, sul da Bahia. Os homens também são acusados de tentativa de homicídio, por balear o cacique Nailton Muniz Pataxó — que foi atingido no rim e passou por cirurgia no Hospital Cristo Redentor, em Itapetinga (BA).

Segundo a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib), a morte dela aconteceu em um conflito entre indígenas, policiais militares e fazendeiros. O confronto, que aconteceu no domingo, também deixou feridos. Uma mulher que teve o braço quebrado e outras pessoas que se machucaram foram hospitalizadas, mas sem risco de morte. O cacique baleado é irmão da Nega Pataxó.

O Ministério dos Povos Indígenas informou que cerca de 200 fazendeiros da região se mobilizaram por mensagens no WhatsApp para invadir a terra. O grupo foi autointitulado “Invasão Zero” e pretendia a retomada da Fazenda Inhuma, no município de Potiraguá, em área reivindicada pelos Pataxós.

Troca de mensagens

O anúncio circulado entre os fazendeiros dizia: “O Movimento Invasão Zero, de forma ordeira, segura e pacífica, convoca em caráter de urgência, todos os produtores rurais, agricultores, comerciantes e proprietários em geral a comparecerem em 21 de janeiro de 2024, às 10h, na ponte do Rio Pardo para ação de reintegração à fazenda invadida do Sr. Américo Almeida. Na Bahia, invasão de propriedade não se cria”.

A ministra dos Povos Indígenas, Sonia Guajajara, visitou ontem o território. Ela desembarcou com uma comitiva criada pela pasta para acompanhar o caso.

“É inaceitável o ataque contra o povo Pataxó Hã Hã Hãe que aconteceu neste domingo, na Terra Indígena Caramuru-Catarina Paraguassu, no sul da Bahia. Cerca de 200 ruralistas da região se mobilizaram para recuperar por meios próprios, sem decisão judicial, a posse da Fazenda Inhuma”, disse, via redes sociais.

Por meio do Departamento de Mediação e Conciliação de Conflitos Fundiários Indígenas, a pasta fez interlocuções com o Ministério da Justiça e Segurança Pública, além da Polícia Federal, com o apoio Ministério dos Direitos Humanos e Cidadania, do Ministério do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar e da Secretaria de Segurança da Bahia para elucidar o caso.

Repercussão

Nas redes sociais, o governador da Bahia, Jerônimo Rodrigues (PT), se manifestou a respeito do confronto. “Seguiremos atentos e atuantes nas investigações sobre o caso no sul do estado. Mais uma vez, prestamos o nosso sentimento às famílias e a toda comunidade indígena da Bahia e do Brasil. O caso está sendo elucidado para puni-los prontamente os responsáveis”, afirmou.

Rodrigues informou que está em contato com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e com a ministra Sônia Guajajara para alinhar as medidas que serão tomadas na esfera federal e estadual. No domingo, o governador havia convocado uma reunião com secretários e chefes de segurança para reforçar o monitoramento em áreas de confrontos entre fazendeiros e indígenas.

A deputada federal Célia Xakriabá (PSol-MG) — que integra a comitiva de Sonia Guajajara — prestou solidariedade a todos os atingidos pela tragédia.

“Estamos na TI Caramuru-Catarina Paraguassu, onde tomaremos os devidos encaminhamentos em um diálogo com a comunidade no sentido de garantir a proteção dos indígenas da região e cobrar investigação rigorosa contra esse crime violento. Que a memória de Nega Pataxó inspire ainda mais força, resistência e mobilização pela justiça”, escreveu no X (antigo Twitter).

Na manhã de ontem, famílias do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) bloquearam rodovias no estado da Bahia, em protesto após o ataque. Os bloqueios aconteceram nas rodovias BR-101 (em dois pontos no extremo Sul baiano) e BR-263, na altura de Itambé, sudoeste do estado. Os participantes dos atos deixaram os piquetes por volta de 12h, de maneira voluntária.

Memória

No ano passado, o líder indígena Lucas Kariri-Sapuyá, 31 anos, foi assassinado a tiros em Itaju do Colônia (BA). Ele era cacique de uma aldeia da mesma etnia de Nega Pataxó, o povo Hã-hã-hãe, e era um dos coordenadores do Movimento Unido dos Povos e Organizações Indígenas da Bahia (Mupoiba) e agente de saúde no Distrito Sanitário Especial Indígena (Dsei) da Bahia.

* Estagiária sob a supervisão de Luana Patriolino

 

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