Brumadinho (MG) — Nos cinco anos desde o rompimento da barragem do córrego do Feijão, a Vale investiu R$ 25,5 bilhões na tentativa de reparar o irreparável. Seja morador ou visitante, para quem quer que percorra a cidade reconstituída, ecoa a memória das 272 vidas dizimadas por um reconhecido erro da companhia de mineração, que provocou o acidente.
Em 25 de janeiro de 2019, às 12h28, a barragem vomitou 12 milhões de metros cúbicos de uma lama escura, que invadiu o rio Paraopeba e seguiu, a aproximadamente 100km/h, arrastando prédios e pontes, destruindo máquinas e triturando pessoas. Entre as 270 vítimas, duas estavam grávidas. Três delas ainda restam localizar: Maria de Lourdes da Costa Bueno, Nathalia de Oliveira Porto Araújo e Thiago Tadeu Mendes da Silva.
Os rejeitos se arrastaram por 400km do rio, afetando um total de 26 municípios e 131 comunidades, entre as quais estão povos indígenas e quilombolas. Fora da bacia do Paraopeba, 27,6 mil quilômetros quadrados foram prejudicados, com a contaminação da água e do solo.
“Erramos, sim. Mas o nosso objetivo agora é tentar acertar para evitar novas tragédias”, reconhece a diretora de Reparação da Vale, Gleusa Josué. “Não há consolo para a dor da perda. Mas ela pode ser ressignificada”, completa, ao descrever as ações que vêm sendo implementadas pela Vale desde o desastre.
Os R$ 25,5 bilhões aplicados até o momento correspondem a 68% do total de R$ 37,6 bilhões previstos no Acordo Judicial de Reparação Integral (AJRI). Assinado em 2021, entre a Vale, o governo de Minas Gerais, Ministério Público Estadual e Federal e a Defensoria Pública de Minas Gerais, o acordo foi o instrumento que definiu as obrigações de fazer e pagar para a reparação socioeconômica e socioambiental da região. De acordo com Gleusa, algumas dessas obrigações já vinham sendo construídas a partir de 2019 e foram incorporadas ao documento.
Para as obrigações a pagar, o acordo prevê o desembolso de R$ 19,9 bilhões, dos quais 86% já foram cumpridos. Já as obrigações a fazer, que envolvem R$ R$ 11,4 bilhões, tiveram 23% das ações concluídas. Outros R$ 6,3 bilhões foram executados antes do acordo ser assinado.
Além desses valores, a Vale despendeu um total de R$ 3,5 bilhões para indenizar 15,4 mil pessoas, a partir de acordos judiciais feitos em Brumadinho, nos municípios da Bacia do Paraopeba e das áreas evacuadas preventivamente por conta da emergência de barragem. Mais de 5,6 mil pessoas receberam atendimentos pelo Programa de Assistência Integral ao Atingido (PAIA), com suporte e orientações financeiras gratuitas após o pagamento das indenizações individuais.
Diversificação econômica
Umas das metas de reparação é reduzir a dependência da mineração, explorando outros potenciais das cidades, como o turismo, o artesanato e o comércio. O catálogo Céu de Montanhas identificou o potencial turístico da cidade e desenvolveu 39 vivências turísticas que podem ser exploradas por quem vem de fora. Entre as iniciativas estão o Circuito de Quilombos de Brumadinho, que já venceu a categoria Diversidade do Prêmio Cumbucca de Gastronomia.
Outra ação é a parceria da Vale com o Instituto Inhotim para fortalecer novos negócios na cidade. O acordo possibilitou a ampliação da gratuidade na entrada para todos os visitantes às quartas-feiras. O museu também passou a incorporar o catálogo Céu de Montanhas em seu site.
No córrego do Feijão, onde ocorreu o desastre, está sendo desenvolvido o projeto de ressignificação, para promover a melhoria da qualidade de vida e o fortalecimento da economia, com o empreendedorismo social.
Os moradores ganharam a praça 25 de Janeiro, que faz alusão ao acontecimento, o Mercado Central Ipê Amarelo, e o Centro de Cultura e Artesanato Laudelina Marcondes. Lá, também foram construídas duas cozinhas comunitárias, com o restaurante para atender os turistas.
Flávia Soares, gerente de fomento econômico da Vale, que já atuava em Brumadinho antes da tragédia, conta que todos os equipamentos foram projetados e construídos em conjunto com a comunidade local. “Trata-se de um processo dialogado e que surge a partir de demandas endógenas, e de questões que já eram relevantes e puderam ser trazidas à tona (após o desastre).” A proposta foi trabalhar uma conjunção entre arquitetura, urbanismo, paisagismo e desenvolvimento humano para fomentar a economia. “Essa foi a estratégia adotada para que a gente pudesse ressignificar a dor e construir o futuro. E sempre com muito diálogo”, comenta a gerente.
Em 2023, segundo Flávia, o projeto conseguiu movimentar R$ 500 mil na economia local. A intenção, diz, é que a comunidade passe a administrar o projeto, a partir de um sistema de cogestão. Para isso, a Vale está capacitando os integrantes do comitê gestor e oferece o suporte técnico aos empreendedores.
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