A delegada de polícia Juliana Domingues narrou cenas de violência doméstica sofridas pelo ex-marido, o tenente-coronel Carlos Eduardo Almeida Alves Oliveira da Costa, enquanto ela chefiava uma Delegacia Especial de Atendimento à Mulher (Deam) em Volta Redonda (RJ). Juliana relatou o caso na edição do Fantástico exibida neste domingo (1/9).
No relato, a vítima narra o medo de denunciar, comum a muitas mulheres, e a certeza de impunidade por parte do agressor. Durante episódios de agressão, Juliana lembra que o policial chegava a falar da situação com deboche: “Eu bato na delegada a Deam, o que você vai fazer?”, dizia.
As agressões citadas pela delegada ocorreram entre 2021 e 2022, quando os dois eram casados. Carlos Eduardo, hoje diretor de segurança do Tribunal Regional Federal da 2ª Região (TRF), que atende Rio de Janeiro e Espírito Santo, atuava na Polícia Militar do RJ.
Juliana conta que o começo do relacionamento era um conto de fadas. No entanto, depois de casados começaram os comportamentos agressivos, o ciúme excessivo, violência verbal, psicológica e física.
Os crimes
Segundo os relatos, foram inúmeras agressões físicas, uma delas na frente de um dos filhos da vítima, enteados do agressor. “Por muitas vezes eu apanhava de cinto. Por várias vezes ele também me fazia contar as cintadas”, relatou. “Na época dos fatos, eu era delegada da Delegacia de Atendimento à Mulher. Isso me fez pensar muito. Antes, eu tinha vergonha. Como isso foi acontecer comigo?”.
Além das agressões físicas, Juliana contou ter sido vítima de estupro. Segundo ela, foram vários episódios em que Carlos Eduardo a forçou a ter relações sexuais, mesmo após ela pedir para que ele parasse.
As denúncias
A delegada compartilhou que ouvir o depoimento de uma vítima atendida por ela na Deam deu a coragem necessária para ela denunciar a violência que sofria. A delegada relatou que ouviu a testemunho e conseguiu ver a semelhança entre o que ela e a assistida viviam nos relacionamentos.
Em 2022, Juliana foi novamente vítima de uma agressão sexual após ter dito que não queria ir ao teatro com o ex-marido e duas amigas dele. “Ele me levou para o nosso quarto, e ali ele me estuprou. Ele fez sexo comigo contra a minha vontade. E eu chorei muito. E eu pedi para ele parar. E óbvio que ele não parou. E ele, quando terminou, virou para mim e falou: ‘E agora, você vai tomar seu banho? Porque o teatro é às 4 horas da tarde’.”, contou ao Fantástico.
Três dias após o crime, ela procurou a Delegacia da Mulher, desta vez na condição de vítima.
As investigações
A vítima passou por dois exames de corpo de delito, que mostraram marcas de agressão física. Os sinais de violência sexual não puderam ser observados nestes testes, já que ela teria sido estuprada pelo próprio marido, que usou de ameaças e de outros tipos de manipulação além do uso da força.
Além de Juliana, cinco testemunhas e o próprio agressor foram ouvidos. No depoimento, Carlos Eduardo alegou que os golpes de cinto faziam parte de uma “fantasia sexual” e que eram consentidos — o que a vítima nega.
No ano passado, o tenente-coronel foi denunciado pelo Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro (MPRJ) por estupro, lesão corporal e violência psicológica. O processo tramita em segredo de justiça.
Para Juliana, vencer a vergonha de falar sobre o caso significa ainda poder mostrar para outras mulheres que existe uma saída para o ciclo de violência. “Eu quero dizer pra elas que elas não se sintam assim. Que existe ajuda, rede de apoio, e que elas têm que ter força de vontade para sair dessa situação”, declarou.
As Delegacias Especiais de Atendimento à Mulher funcionam 24h e são uma importante rede de apoio para mulheres em situação de violência. Também é possível denunciar por telefone, pelo Ligue 180,a ligação é confidencial.
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