A sensação de insegurança cresce entre os moradores da Região Centro-Sul de Belo Horizonte após uma série de furtos praticados pela mesma dupla de criminosos em prédios de luxo. Vestidos com roupas de marca e se passando por parentes de moradores, os ladrões conseguiram acesso a um prédio no Bairro Belvedere no último domingo (14/7). Durante a invasão, eles roubaram aproximadamente R$ 200 mil de um apartamento, cujos moradores estavam viajando no momento do crime. Antes disso, a dupla ainda tentou a mesma estratégia em outro prédio a cerca de seis quilômetros dali. O caso se insere em uma estatística preocupante: diariamente, em média, 14 imóveis são invadidos e furtados na capital mineira.
De acordo com o boletim de ocorrência, a família que vive no apartamento assaltado havia saído para viajar na sexta-feira (12/7) e retornou no fim da tarde de domingo. Ao chegarem em casa, os moradores encontraram o apartamento revirado e o cofre arrombado. As vítimas relataram à polícia que foram levados cerca de R$ 200 mil em dinheiro e joias. A invasão ocorreu por volta das 15h, pouco antes do retorno dos moradores. As câmeras de segurança do apartamento capturaram imagens da dupla na cozinha.
O porteiro do prédio disse à Polícia Militar (PM) ter liberado a entrada dos jovens depois de eles afirmarem que eram sobrinhos de um morador. Eles sabiam nome e apartamento da vítima. Após a entrada, o porteiro ligou para o morador citado por eles, mas não conseguiu contato. Desconfiado, o funcionário tentou impedir a saída dos jovens cerca de uma hora depois de entrarem no condomínio. No entanto, a dupla quebrou a porta e fugiu. Câmeras de monitoramento registraram a presença de um terceiro criminoso, que ajudou na fuga dos jovens de carro. Até o momento, ninguém foi preso.
Procurada pela reportagem, a Polícia Civil de Minas Gerais disse ter instaurado um inquérito para apurar o caso, que ficará a cargo do Departamento Estadual de Investigação de Crimes Contra o Patrimônio (Depatri). Em respeito ao andamento das investigações, ainda em curso, a PM também não deu detalhes dos trabalhos. “Ressalta-se que muitas operações estão sendo desencadeadas, rotineiramente, nas localidades, para prevenir e reprimir, de forma qualificada, crimes contra o patrimônio na região”, destacou por meio de nota.
Além do edifício no Belvedere, a dupla tentou também entrar em outro prédio, a cerca de 6 quilômetros, desta vez no Bairro Funcionários. O modus operandi foi o mesmo: os assaltantes chamaram o porteiro e se passaram pelo sobrinho de uma dentista que mora no prédio. O pedido foi rejeitado pelo porteiro. Eles sabiam o número do apartamento e o nome da vítima, que, segundo relatos de moradores, costuma viajar com frequência. As imagens do circuito de segurança do prédio ainda flagraram uma tentativa dos jovens de entrar juntamente com um morador. A sorte foi que a porta travou, e eles não conseguiram entrar. A dupla ficou na porta do prédio por cerca de cinco minutos antes de desistir e ir embora.
Essa foi a quarta vez que os “espertinhos” tentaram entrar no prédio usando a mesma estratégia. As tentativas ocorrem sempre nos fins de semana e feriados, relata um morador que preferiu não se identificar. Em uma das ocasiões, os criminosos conseguiram entrar no edifício, liberados por uma faxineira, mas não tiveram acesso aos apartamentos devido ao código de segurança do elevador. “Eles não tinham a senha, então, ficaram parados ali. A síndica interveio e eles foram expulsos. Eles não aparentam ser ladrões, estão sempre bem-vestidos e mencionam o nome de um morador legítimo”, contou o condômino à reportagem.
Depois disso, a segurança no prédio foi reforçada, e os moradores e funcionários estão sendo orientados a não permitir a entrada de desconhecidos, mesmo que afirmem ser parentes de moradores. “Temos reforçado a segurança e planejamos implementar mais medidas, como câmeras filmando diretamente o rosto dos visitantes e controle rigoroso de entrada de convidados”, afirma.
Em áreas nobres de Belo Horizonte, residências de alto padrão têm sido alvo frequente de ladrões que exploram brechas na segurança e ausências dos moradores. No mesmo dia do assalto no Belvedere, dois homens invadiram uma casa no Mangabeiras, agrediram um morador, e fugiram com um Rolex e eletrônicos após arrombar o portão. Câmeras mostraram um suspeito se aproximando a pé, tocando a campainha sem resposta, e encontrando seu comparsa para o arrombamento. Até o momento, ninguém foi preso.
Treinamento
As ocorrências recentes se somam a uma estatística alarmante: por dia, em média, 14 residências são invadidas e furtadas, segundo dados da Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública (Sejusp). Só neste ano, já foram registrados 2.080 casos, mais de um terço do total de ocorrências contabilizadas em todo o ano passado (6.052). “Os criminosos estão constantemente melhorando seus métodos. Por isso, é crucial treinar síndicos, porteiros, funcionários e moradores em ações coordenadas para combater a criminalidade e assegurar a segurança”, analisa Carlos Eduardo Queiroz, presidente do Sindicato dos Condomínios de Minas Gerais (Sindicon-MG).
A entidade oferece treinamentos gratuitos que incluem temas de segurança, mas, de acordo com Queiroz, a adesão tem sido baixa. “Os condomínios não estão enviando seus funcionários para participar dos treinamentos”, observa ele. Mais de 90% das invasões a prédios ocorrem pela porta da frente, segundo especialistas da área, o que indica falhas nos procedimentos de segurança. “A pessoa não tem mais preocupação em ser identificada, em ser filmada. Hoje qualquer lugar tem câmera. Por isso, o treinamento é tão importante para reforçar medidas de segurança, inclusive entre os próprios moradores”, completa o advogado especializado em direito condominial.
Inadvertidamente, os próprios moradores também abrem as portas para ameaças, ao ignorar ou quebrar regras básicas de segurança, como liberar a entrada de desconhecidos. É exatamente nesses descuidos que os criminosos se aproveitam, e por isso regras básicas de segurança não devem ser negligenciadas. “Há quem reclame de demoras ou restrições na liberação de visitas, o que cria oportunidades para os bandidos”, observa Queiroz. A locação de imóveis por curta temporada, segundo ele, representa um desafio adicional à segurança. “O maior fluxo de pessoas estranhas aumenta o risco para o condomínio”, aponta.
Vazamento de informações
Crimes do tipo ainda são frequentemente facilitados por pessoas próximas às vítimas, que fornecem informações detalhadas sobre como burlar a segurança. O cientista social e pesquisador do Centro de Estudos de Criminalidade e Segurança Pública (Crisp) da UFMG, Robson Sávio Souza, defende que as pessoas sejam mais criteriosas com o conteúdo que publicam nas redes sociais, evitando a exposição desnecessária de detalhes sobre suas vidas e suas medidas de segurança. “Essas informações podem ser valiosas. Nesse tipo de crime, especialmente visando imóveis de luxo, o criminoso não escolhe a vítima ao acaso; ela foi escolhida com base em informações privilegiadas”, explica.
A questão da valorização do patrimônio e a relutância de alguns moradores em implementar e seguir medidas de segurança são pontos que enfraquecem a segurança. “Alguns têm receio de que uma segurança reforçada sugira que o prédio já foi assaltado, mas isso é um equívoco. Manter a segurança é vital para proteger o patrimônio. Cuidados até mesmo com a contratação de síndicos externos e treinamento adequado são necessários”, acrescenta. Souza concorda e ainda enfatiza a importância de ter um sistema de segurança próprio, mesmo em condomínios com vigilância. “Confiar apenas no sistema de segurança do prédio pode não ser suficiente. Um sistema de vigilância interno, como alarmes e câmeras, pode servir como uma camada adicional de proteção quando a pessoa não está presente”, completa.
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