O artista Thiago Mundano inaugurou, na quarta-feira (23/10), um mural de 30 metros de altura e 48 metros de largura para denunciar a destruição dos biomas brasileiros — que sofrem com queimadas, desmatamentos e outros impactos das mudanças climáticas. A obra de 1.581,60m² foi pintada com cinzas da Amazônia, do Cerrado, da Mata Atlântica e do Pantanal, e também com lama de cidades do Rio Grande do Sul, que foram devastadas por inundações em maio deste ano.
Além disso, o mural retrata Alessandra Munduruku, que é uma das principais lideranças indígenas brasileiras. A ativista cobra que a multinacional Cargill cumpra a promessa de eliminar produtos vindos do desmatamento causado pela cadeia de fornecimento até 2025.
Mundano diz que o “artivismo” — junção de arte com ativismo — é uma maneira de alertar sobre a emergência climática, considerada um dos maiores desafio da humanidade atualmente. “No Brasil e no mundo sofremos com ondas de calor, secas severas, enchentes, causadas pelo desequilíbrio ambiental que grandes corporações como a Cargill estão promovendo”, cita.
“Meu país foi engolido pela fumaça da ganância. Cargill-MacMillan, querem ser lembrados por serem uma família que acelerou a extinção da humanidade ou por ter sido a família que entendeu a urgência e foi uma das propulsoras para iniciar uma grande mudança global?”, questiona Mundano.
Ao Correio, o artista afirmou que a obra levou 15 dias para ficar pronta. Segundo Mundano, foram usados mais de 100kg de pigmentos naturais e argilas de terras indígenas Munduruku. O mural foi intitulado como Stop the destruction – Keep Your Promises (Pare a destruição – Cumpra suas promessas, em tradução para o português), e é um dos maiores da cidade de São Paulo e da América do Sul.
Veja o vídeo:
A escolha de São Paulo para estampar o mural foi motivada pelo fato da cidade ser um centro financeiro que concentra a maior parte do capital e do poder de transformação sistêmica. ” Ao mesmo tempo essa mensagem também é escrita em inglês para ser direcionada às corporações internacionais, como a Cargill que tem um impacto gigantesco no Brasil, na América do Sul e no nosso planeta. É uma mensagem para que eles sejam melhores, que eles compram as promessas que eles mesmos criaram. Eles podem ser lembrados como líderes dessa transformação e ser algo positivo ou então vão continuar sendo lembrados como uma empresa que foi catalisadora dessa destruição”, explica.
Mundano também conta que a arte sempre esteve presente na vida dele, mas ele reconhece que esse acesso não é uma realidade de todos os brasileiros. Por isso, o artista defende que a arte seja mais democratizada.
“Eu acho tão interessante a gente criar arte pública, como o grafite, essa arte mais democrática. Eu fico muito feliz de colocar mais arte nas ruas, porque ela é muito importante. Ela é um momento em que podemos ter reflexões, inspirações e emoções, tanto positivas quanto negativas. A boa arte é aquela que gera reações, então estou feliz que nesses 15 dias que estamos pintando pude ter despertado tantas emoções e reações nas pessoas que passaram por aqui. Isso me faz feliz e completo hoje, fazer arte nessa escala e dessa importância”, destaca.
Arte como ferramenta de protesto
O mural foi feito em parceria com a Campanha Burning Legacy da organização ambientalista Stand.earth. Após a inauguração do mural, a Stand.earth levará a mensagem para a família Cargill-MacMillan, nos Estados Unidos, por meio de uma série de cartazes criados por Mundano, juntamente com líderes indígenas e comunidades tradicionais. Cada cartaz terá o nome de um membro da família impresso com as mesmas cinzas de florestas usadas na produção do mural e a frase: “Cumpra Sua Promessa – Pare a Destruição”.
“A família Cargill-MacMillan diz que não é responsável pelas ações da Cargill porque não está envolvida em sua gestão. Isso é como dizer que não sou responsável se meu cachorro te morder porque não estou envolvido no seu adestramento. Como proprietários da Cargill, eles são responsáveis por suas ações. Apenas eles podem decidir se o legado de sua família será de mudança de curso e proteção das florestas do mundo ou se serão responsáveis por sua extinção”, critica Mathew Jacobson, diretor da campanha Burning Legacy, da Stand.earth.
O que diz a Cargill?
Em nota, a Cargill disse que respeita a liberdade de expressão do artista, mas ressaltou que a empresa segue “inabalável” nas ações para proteger os direitos humanos, aumentar a sustentabilidade e proporcionar cadeias de abastecimento livres de desmatamento.
“Cabe esclarecer que o mural baseia-se em relatório que é impreciso e as afirmações nele contidas deturpam o trabalho da Cargill e as nossas cadeias de abastecimento. O fato é que a Cargill acelerou o seu compromisso de eliminar o desmatamento e a conversão de terras das nossas cadeias de abastecimento direta e indireta de soja, milho, trigo e algodão no Brasil, Argentina e Uruguai até 2025. Estamos no caminho certo para cumprir esse compromisso”, afirmou a multinacional.
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