Marina Dantas*
Vitória Torres*
O índice de alfabetização no Brasil chegou, em 2022, a 93%. A constatação é do levantamento “Alfabetização: Resultados do Universo”, recorte do Censo Demográfico realizado há dois anos, e divulgado, ontem, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Ainda assim, há 11,4 milhões de pessoas com 15 anos ou mais que não sabem ler ou escrever um bilhete simples — o equivalente a 7% da população.
“Esses indicadores são um retrato do investimento em educação feito em décadas passadas. Essa queda (no analfabetismo) já era esperada, porque novas gerações mais educadas vão substituindo as mais velhas e menos educadas”, explica Betina Fresneda, analista do IBGE.
Mesmo sendo a menor taxa de analfabetismo desde o início da formulação de série histórica, idosos, indígenas, negros e moradores da Região Nordeste são os mais impactados. Em 1940, mais da metade da população (56%) não sabia ler nem escrever. Esse cenário começou a mudar a partir de 1980, quando a taxa de alfabetização subiu para 74,5%.
O Censo de 2022 trouxe que, dos 163 milhões dos brasileiros com 15 anos ou mais, 151,5 milhões sabem ler e escrever. A decisão do IBGE de focar nessa faixa etária tem a ver com padrões internacionais para a aferição da taxa de alfabetização. Esse recorte é realizado por afetar desde a empregabilidade até a capacidade de exercer a cidadania, pois entre adultos não saber ler ou escrever influencia diretamente o desenvolvimento econômico e social.
Pretos e pardos
As taxas de analfabetismo entre os pretos e pardos são mais que o dobro das registradas entre os brancos. Enquanto 4,3% da população branca é de pessoas que não sabem ler ou escrever, esse percentual sobe para 10,1% entre os pretos e para 8,8%, entre os pardos. A situação é ainda mais grave entre os indígenas: nas comunidades originárias, a taxa de analfabetismo é de 16,1% — quase quatro vezes maior que a dos brancos.
Os idosos continuam sendo o grupo mais afetado pelo ausência de leitura ou escrita. Em 2022, 20,3% das pessoas com 65 anos ou mais eram analfabetas, apesar de ser este o menor índice registrado para essa faixa etária. Se observado que, em 2000, 38% dos idosos não sabiam ler ou escrever, de lá para 2022 houve uma queda de 46,7%.
“A elevada taxa de analfabetismo entre os mais velhos é um reflexo da dívida educacional brasileira, cuja tônica foi o atraso no investimento em educação, tanto para escolarização das crianças, quanto para a garantia de acesso a programas de alfabetização de jovens e adultos por uma parcela das pessoas que não foram alfabetizadas nas idades apropriadas, conforme almejado pela Constituição de 1988”, explicou o IBGE, na síntese do estudo.
Entre as pessoas de 15 a 19 anos, o percentual do analfabetismo verificado no último Censo é de 1,5%. Significa que as gerações mais jovens têm mais acesso à educação básica.
No geral, 93,5% das mulheres sabem ler ou escrever, se comparado a 92,5% dos homens. Mas, entre as pessoas com 65 anos ou mais, os homens têm uma ligeira vantagem — 79,9% deles são alfabetizados contra 79,6% das mulheres.
Nordeste: avanço insuficiente
Apesar de a taxa de alfabetização no Nordeste ter aumentado de 80,9%, em 2010, para 85,8%, em 2022, a região ainda apresenta os mais baixos percentuais do país. Alagoas e Piauí registram os menores índices, com 82,3% e 82,8%, respectivamente. As cinco cidades com maiores taxas de analfabetismo ficam no Nordeste, quando se consideram os municípios independentemente do recorte por tamanho de cidade. A exceção fica naqueles entre 10 mil e 50 mil habitantes, que conta com duas cidades de Roraima — incluindo Alto Alegre, com o pior desempenho do país.
O Sul e o Sudeste continuam a liderar as taxas de alfabetização. Na região composta por Rio Grande Sul, Santa Catarina e Paraná, o índice de instrução subiu de 94,9%, em 2010, para 96,6%, em 2022. No caso do Sudeste, o avanço foi de 94,6% para 96,1% no mesmo período.
No Centro-Oeste, a taxa de alfabetização atingiu 94,9%, em 2022. Enquanto isso, o Norte, apresentou uma taxa de 91,8%. Na comparação entre as unidades da Federação, Santa Catarina (97,3%) e Distrito Federal (97,2%) apresentam as maiores taxas de alfabetização. As disparidades na instrução também se manifestam quando analisados os dados por tamanho de município.
Em cidades com população entre 10.001 e 20 mil habitantes, a taxa média de analfabetismo é de 13,6% — mais de quatro vezes a dos municípios com mais de 500 mil habitantes (3,2%).
Na análise do pesquisador em educação e doutor em psicologia educacional Afonso Celso Galvão, além da taxa de analfabetismo é necessário levar em conta, também, o analfabetismo funcional. “Uma parte muito expressiva da população tem dificuldade de interpretar textos básicos e para se expressar na forma escrita. Não basta apenas ser alfabetizado. É importante que se promova uma eficiência de alfabetização e uma eficiência de lectoescrita muito maior do que temos”, explica. (Com Agência Estado)
*Estagiárias sob a supervisão de Fabio Grecchi
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