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“Parece uma ação orquestrada”, diz ministro de Lula sobre decisão do Carrefour

O ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, disse que a decisão do Carrefour de parar com a venda das carnes produzidas nos países do Mercosul “parece uma ação orquestrada” que teria como objetivo pressionar o governo da França a não assinar o acordo entre o bloco sul-americano e a União Europeia.

“Me parece uma ação orquestrada de companhias francesas. Não pode achar que é coincidência. Há 15 dias atrás, foi a Danone que fez. E agora o Carrefour. Apontando de forma inverídica as condições de produção brasileiras, de forma a ferir a soberania brasileira e afetando nossa produção que é sustentável”, disse Fávaro.

“Parece-me que estão querendo arrumar algum pretexto para que a França não assine e continue com posição contrária à finalização do acordo Mercosul-União Europeia”, completou o ministro.

A declaração do ministro foi dada a jornalistas, nesta quarta-feira (21), após jantar no Itamaraty em homenagem a Xi Jinping, presidente da China.

O ministro ainda disse estar “indignado” com a decisão da rede de supermercados francesa. 

“Era mais bonito e legítimo só manter a posição contra, mas não precisava ficar procurando pretexto naquilo que não existe na produção sustentável e exemplar brasileira. Eu seria o último a apontar qualquer defeito na produção francesa, mas fico indignado quando eles querem fazer isso com o Brasil”, completou Fávaro.

Decisão do Carrefour foi anunciada pelo CEO da companhia

Na quarta-feira, o CEO do Carrefour, Alexandre Bompard, publicou em suas redes sociais um comunicado no qual assume o compromisso de a rede supermercadista francesa não comercializar nenhuma carne proveniente do Mercosul nas suas unidades na França.

A restrição a Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai ocorre em meio à onda de protestos de agricultores franceses contra a proposta de acordo de livre comércio entre a União Europeia e o bloco da América do Sul.

Bompard ainda disse que o acordo traria o “risco de a produção de carne que não cumpre com seus requisitos e padrões se espalhar pelo mercado francês” e que “no Carrefour, estamos prontos, qualquer que seja o preço e a quantidade de carne que o Mercosul venha a nos oferecer”.

O CEO acrescenta que espera que a medida “inspire” outras empresas no setor agroalimentar em solidariedade aos agricultores, principalmente as do setor de refeições fora de casa, onde é registrado mais de 30% do consumo de carne na França, sendo que deste total, 60% é importada.

Agro brasileiro repudiou decisão do Carrefour

Após o anúncio do CEO do Carrefour, a Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec) disse que “ao adotar um discurso protecionista em defesa dos produtores franceses, o Carrefour fragiliza seu próprio negócio e expõe o mercado europeu a riscos de abastecimento, já que a produção local não supera a demanda.”

Em nota, a Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA) classificou as declarações de  Bompard como “infundadas” e disse que ele “se utiliza de argumentos equivocados ao dizer que as carnes produzidas pelos países-membros do Mercosul não respeitam os critérios e normas do mercado francês”. 

Ainda, segundo a ABPA, a “argumentação é claramente utilizada para fins protecionistas, ressonando uma visão errônea de produtores locais contra o necessário equilíbrio de oferta de produtos de seu próprio mercado”. 

Para o presidente da Associação Nacional de Pecuária Intensiva (Assocon), Maurício Veloso, a decisão de Bompard “faz com que a possibilidade de respeito por ele caia por terra”. 

“Ele [Alexandre Bompard] está muito preocupado com uma narrativa ligada à proteção de um pequeníssimo núcleo de produtores pecuários, em detrimento de toda a população francesa”, afirmou Veloso ao jornal Agro Estadão.

Também em nota, a Associação Brasileira de Angus e Ultrablack disse que a declaração de Bompard é “improcedente” e que “acarreta sérios prejuízos à imagem e à reputação da proteína brasileira, produzida a partir de um trabalho sério e responsável feito por criadores e empresas do setor. E ainda mais grave quando a mesma é proferida por um executivo de uma companhia global com ampla ligação com o nosso país”.

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