O desabafo do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, há poucos dias, em São Paulo, deixou a impressão de despedida. Queixou-se de que o Brasil é encrenca e que é um país difícil de administrar. Depois disso, parece uma catarse: “Às vezes, quem está em uma posição de poder não está fazendo a coisa certa pelo país. Isso é a coisa mais triste da vida pública: quem pode fazer a diferença nem sempre está pensando no interesse público. E devia estar, né? Porque está em posição de poder, porque é grande empresário ou político com mandato.”
A quem estaria o ministro se referindo? Foi num evento do Instituto Conhecimento Liberta. Significativo: parece estar se libertando. Enquanto isso, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, mais uma vez, aplicava o mau exemplo de Pilatos. Referindo-se à “medida provisória do fim do mundo”, que lhe foi devolvida, lavou as mãos: “A bola está nas mãos do Senado, e na mão (sic) dos empresários. O Haddad tentou, não aceitaram. Agora, encontrem uma solução”.
O presidente não pode esquecer que ele é o chefe do Executivo, responsável, portanto, pelo equilíbrio fiscal. Aliás, quem deu o chute inicial nessa bola foi ele mesmo, ao quase dobrar o número de ministérios, aumentando o custo do governo e, até agora, não praticou cortes no Estado gordo, pesado e lento. A solução que tem aparecido é tributar.
Críticas
Com isso, recebeu críticas de um importante contribuinte de campanha, o empresário Rubens Ometto. O presidente da Confederação da Agricultura, João Martins, convidado, respondeu que não quer mais falar com Lula. E o presidente da Federasul (Federação das Entidades Empresariais do Rio Grande do Sul), Rodrigo Souza Costa, anunciou que agora vai elevar o tom porque “um presidente sindicalista não está preocupado com o emprego no Rio Grande do Sul atingido”. Queixou-se da morosidade, inércia e pouco efetividade do governo federal, que recebe mais impostos do estado em relação ao que retribui em serviços e apoio — e ainda tem um ministro lá só para cuidar dos assuntos do Rio Grande.
O investimento estrangeiro em bolsa também demonstra desaprovação. Neste ano, foram retirados R$ 45 bilhões em investimento estrangeiro da B3. Segundo fonte do J.P. Morgan, por estar o governo demonstrando dificuldades em cumprir as metas fiscais.
Sucessivas medidas provisórias têm fracassado e, ainda assim, o presidente baixou mais uma que já dá o que falar. A MP beneficia os irmãos Batista, Joesley e Wesley, e saiu poucos dias depois que eles estiveram no Palácio.
A da desastrosa importação de um milhão de toneladas de arroz ainda está vigente — o fiasco não surtiu arrependimento. Não é a oposição que mais enfraquece o governo, é o próprio chefe do governo. Lula é política pura. A administração pública precisa de técnicos, especialistas em cada assunto, e não apenas intuição.
Mas a intuição parece cansada, ou desatualizada, passada no tempo. As lideranças do governo e seus seguidores notam isso. O líder do governo na Câmara, deputado José Guimarães (PT-CE), queixou-se da falta de comando. Tem vindo à tona queixas entre ministros e de parlamentares aliados. O problema é que isso prejudica o país inteiro.
Não é o país que é encrenca, é o governo que está encrencado.
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