Bacharel e mestre em engenharia ambiental pela Universidade Técnica de Cottbus (Alemanha), Michael Becker, acredita que trabalhar junto à natureza é o princípio básico do qualé preciso partir para se pensar aprevenção de desastres ambientais extremos. Um exemplo sãoas enchentes que assolam o Rio Grande do Sul em decorrência das fortes chuvas do último mês.
No Podcast do Correio, o CEO da Nature Invest disse que o planejamento das cidades não pode continuar sendo feito como era no passado, mas sim visando “reduzir riscos ao máximo”. “A gente não pode continuar a planejaras cidades como a gente planejava no passado. Porque, no passado, a gente não tinha esses eventos extremos, e agora nós temos”,explicou. Segundo ele, é preciso trabalhar com a natureza para tentar minimizar essas catástrofes ao máximo. Becker sugeriu a aplicação do conceito de “cidade esponja” como uma alternativa para o planejamento de cidades visando à prevenção de inundações.
Às jornalistas Fernanda Stricklande Rafaela Gonçalves, o engenheiro ambiental explicou o funcionamento da estratégia, já utilizada em cidades chinesas, em que o solo e a infraestrutura são trabalhados para absorver um grande volume de água e, além disso,direcionar os maiores fluxos para longe das regiões de maior vulnerabilidade.
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“A ideia é deixar, por assim dizer, a água ‘invadir’ a cidade, mas essa invasão acontece de maneira muito mais controlada. Ou seja, tem-se áreas definidas na cidade que podem ser invadidas,onde não existem habitações,onde a água pode se expandir,e expandindo naquelas regiões,você tira a água, por exemplo,do centro. Então o centro, onde tem aquela infraestrutura, não é atingido porque a água pode expandir para outras regiões. Isso está planejado dentro das cidades esponja, e isso, sem dúvida,é um conceito muito importante que a gente pode aplicar para as cidades do RS, inclusive a própria Porto Alegre”, argumentou.
Para o CEO da Nature Invest, a tragédia ocorrida no estado é um dentre tantos fenômenos climáticos extremos que têm ocorrido ao redor do planeta nos últimos anos, decorrentes das mudanças climáticas recentes. Mais especificamente, ele cita alguns fatores recentes que, em conjunto,teriam resultado nas inundações em território gaúcho.
“A gente teve o El Niño, que configurou uma zona de alta pressão no Cerrado, onde a gente está agora, em Brasília, mas também tivemos a influência de uma frente fria e, depois, mais os jatos de ares bastante úmidos vindos da Amazônia”, pontuou.
“Essa combinação fez com que,exatamente, houvesse uma precipitação, uma chuva muito forte, ou seja, uma chuva com grandes volumes, em curto espaço de tempo, concentrados naquela região de serra”, explicou.Com um histórico de trabalhos focados no Cerrado, Becker demonstrou preocupação com oque chamou de “afrouxamento”das legislações ambientais que regem o bioma.
Para o engenheiro ambiental, o Cerrado poderá ser negativamente impactado por legislações que, por exemplo,resultem no aumento do uso de agrotóxicos. As legislações que tendam a flexibilizar o licenciamento ambiental e a autodeclaração da posse de terras também são vistas pelo CEO da Nature Invest como um enfraquecimento do Código Florestal.“Esse enfraquecimento do Código Florestal, colocando essas outras leis agora em debate, é muito ruim, muito prejudicial, realmente, ao Cerrado. Eu acho que as leis (vigentes) estão boas, foram bem debatidas.Desejo que aqueles que estão,no agronegócio, fazendo a coisa certa, realmente tenham uma voz forte também no Congresso e no Legislativo dos estados”, disse.
*Estagiário sob supervisãode Edla Lula
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