Com chuvas caindo desde o mês de abril, o Estado do Maranhão tem atualmente 30 dos 217 municípios em estado de emergência.
O termo significa que o governo tem autoridade para tomar medidas extraordinárias — como realocar fundos, mobilizar recursos e impor restrições de acesso a determinadas áreas.
Em uma publicação nas redes sociais, o governador do Estado do Maranhão, Carlos Brandão, disse que há imagens de enchentes no Maranhão circulando na internet nos últimos dias que são, na verdade, de 2023.
Ele também diz que as dificuldades atuais do Estado são “menos preocupantes” do que aquilo que a população local já enfrentou no passado.
“Atualmente, não temos nenhuma família em abrigos, mas por orientação do governador Carlos Brandão, continuaremos de prontidão”, afirmou Célio Roberto, comandante-geral do CBMMA (Corpo de Bombeiros Militar do Maranhão), em vídeo compartilhado pelo governador no X, antigo Twitter.
José Lisboa, tenente-coronel porta-voz do Corpo de Bombeiros Militar do Maranhão, afirmou à BBC News Brasil que algumas famílias precisaram ser realojadas.
“Tivemos notícias de algumas famílias em Barreirinhas que precisaram ir para casas de familiares por conta de prejuízos em suas residências. Mas não há ninguém em abrigos públicos.”
Até o momento, segundo a Defesa Civil, o município de Santa Inês é o único em estado de calamidade pública.
“O aspecto mais significativo nesse munícipio foi o rompimento de uma ponte e de algumas vias de acesso a povoados. O estado de calamidade não é por pessoas estarem desabrigadas”, afirma Lisboa.
A devastação, de acordo com especialistas ouvidos pela BBC News Brasil, é muito menor – em volume de chuvas, áreas afetadas e pessoas atingidas – do que a vista no Estado do Rio Grande do Sul.
De acordo a metereologista Ana Avila, pesquisadora da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), a principal razão para as fortes chuvas no Maranhão é a instabilidade da chamada Zona de Convergência Intertropical.
Essa zona, localizada perto da linha do Equador, é uma região onde os ventos de diferentes partes do mundo se encontram. Quando esses ventos se juntam, fazem com que o ar quente e úmido suba, muitas vezes formando chuvas intensas.
“Agora, a zona está um pouco mais ao Sul do que o normal, ela ainda não retornou ao seu lugar habitual a tempo, o que resulta em chuvas para o Maranhão e outras áreas próximas [incluindo o Norte do Pará].”
Outro fator determinante é que a atividade dos ventos na Zona de Convergência Intertropical está mais intensa do que o comum.
“Isso tem contribuição do Oceano Atlântico, que está muito quente para os padrões normais”, afirma Francisco de Assis, meteorologista e consultor climático.
O aquecimento do oceanos, como descreveremos abaixo, influencia nos eventos climáticos e tem piorado nos últimos anos.
Média de chuva é maior do que o esperado, mas situação ainda é controlada
No norte do Estado, a região mais afetada, a média de chuva no último mês foi além do esperado: eram previstos entre 300 a 420 milímetros de água para o mês de abril, e o Estado recebeu entre 450 a 600 milímetros.
Nos primeiros dez dias de maio, já foram entre 80 e 100 milímetros.
“E para os próximos 10, a previsão é que continue subindo, atingindo entre 100 a 180”, aponta Assis.
A meteorologista Ana Avila ressalta a distinção entre os padrões de chuva no Maranhão e no Rio Grande do Sul.
Enquanto no Maranhão as chuvas têm sido persistentes, no Rio Grande do Sul ocorre um grande volume em períodos mais curtos.
“Essa diferença permite que a água seja escoada gradualmente no Maranhão, ao invés de se acumular rapidamente em grandes volumes.”
“Para quem está na região afetada, é importante prestar atenção às previsões do tempo e aos avisos emitidos pela Defesa Civil, que dão informações para proteger a população de riscos relacionados às chuvas”, aconselha Francisco de Assis.
De acordo com a Agência Brasil, as cidades que estão em estado de emergência no Maranhão são:
- Formosa da Serra Negra
- São Roberto
- São João do Sóter
- Tuntum
- Monção
- Pindaré-Mirim
- Conceição do Lago Açu
- Lago da Pedra
- Lagoa Grande do Maranhão
- Carutapera
- Governador Nunes Freire
- Boa Vista do Gurupi
- Trizidela do Vale
- Cantanhede
- Palmeirândia
- Bacabal
- Jenipapo dos Vieiras
- Cachoeira Grande
- Buriticupu
- Arari
- Satubinha
- Anapurus
- Grajaú
- Colinas
- Matões do Norte
- Pedro do Rosário
- Peri Mirim
- Tufilândia
- Barra do Corda
- Barreirinhas
Oceanos têm registrado temperaturas acima do comum
De acordo com uma análise recente da BBC, os oceanos têm enfrentado um aumento constante de temperatura, estabelecendo novos recordes por 12 meses consecutivos.
Cerca de 50 dias desses meses registraram temperaturas máximas nunca antes vistas para o mesmo período em anos anteriores, conforme dados de satélites.
Embora os gases do efeito estufa sejam os principais contribuintes para esse fenômeno, o El Niño, um evento climático natural, também desempenhou um papel significativo ao intensificar o aquecimento dos oceanos.
Durante muitas décadas, os oceanos foram vistos como a “válvula de escape” da Terra em termos de alterações climáticas.
Eles não só retêm cerca de um quarto do dióxido de carbono produzido pelos humanos, como também absorvem cerca de 90% do excesso de calor.
Porém, em 2023, os oceanos apresentaram sinais alarmantes de que estão lutando para se adaptar às mudanças climáticas, com a superfície do mar especialmente afetada.
A partir de março do ano passado, a temperatura média da superfície dos oceanos começou a subir constantemente acima da média histórica, atingindo um novo recorde máximo em agosto do mesmo ano.
Os meses seguintes não trouxeram alívio: a superfície do mar continuou a registrar novos picos de temperatura, atingindo um novo máximo diário médio de 21,09 ºC em fevereiro e março de 2024, de acordo com dados do programa Copernicus, da União Europeia.
Como mostra o gráfico acima, desde 4 de maio de 2023, todos os dias têm superado os recordes anteriores de temperatura, com algumas ocasiões registrando aumentos consideráveis em relação aos anos passados.
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