O Rio Grande do Sul tem registrado nos últimos dias um grande volume de chuvas, o que causou a morte de 38 pessoas até a tarde desta sexta-feira (3/5). Outras 74 estão desaparecidas. Cerca de 23 mil pessoas estão desalojadas.
Segundo a Defesa Civil, 235 dos 497 municípios gaúchos foram afetados pelas fortes chuvas que se estenderam desde o início da semana.
A situação fez com que o Estado decretasse calamidade pública na quarta-feira (1/5). As consequências dos temporais, como enchentes e transbordamento de rios, foram classificadas como desastres de nível 3, que são “caracterizados por danos e prejuízos elevados”.
As aulas da rede estadual foram suspensas nesta semana. Ao todo 700 mil alunos foram impactados.
Nesta quinta-feira, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) visitou o Estado e prometeu ajudar os governos locais.
“Como cidadão eu vou rezar para que a chuva não castigue mais pessoas no Rio Grande do Sul. Como governante, farei tudo o que for possível para auxiliar os governos municipais e estaduais a remediar os danos as milhares de famílias”, afirmou.
O governador do RS, Eduardo Leite (PSDB), afirmou que o total de mortes deve aumentar. O governador afirmou que o total de mortes ainda deve aumentar.
“Não vamos titubear. Faremos tudo que for possível e, se for necessário, vamos brigar com quem tiver que brigar para colocar todas estruturas em campo no Rio Grande do Sul”, afirmou, em publicação no X (antigo Twitter).
Segundo o Climatempo, as chuvas devem continuar nas regiões de Santa Maria, vales dos rios Taquari, Caí e Pardo, Região Metropolitana, Serra, Norte e Noroeste. A previsão de instabilidade vai até domingo (5).
Com problemas de movimentação no Estado, o governo federal decidiu adiar a realização do Concurso Público Nacional Unificado (CPNU), que seria realizado no domingo. Ainda não foi divulgada uma nova data.
Volume de chuvas
A cidade de Fontoura Xavier é o município que registrou o maior volume de chuva do Estado, com 500,6 milímetros entre as 12h de terça e as 12h de quarta.
O volume é mais de três vezes maior do que a média histórica do município – 146 milímetros. Os dados são do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden).
Sete cidades do estado gaúcho estão entre as 10 com mais volume de chuvas registrado no mundo nas últimas 24 horas, segundo o serviço de meteorologia Ogimet, que possui base em mais de 6,6 mil estações em vários países. Os dados são da tarde desta quinta-feira (2).
A cidade de Santa Maria, apesar de não aparecer nesta lista, é uma das mais afetadas pela chuva, com desmoronamento de encostas, obstruções e bloqueios em vias urbanas e rurais. Onze pontes caíram e há áreas de inundação em diversos pontos. Ao menos duas pessoas morreram.
Por lá, já são 436,2 milímetros de chuva acumulado nos últimos três dias, volume muito acima dos 140 milímetros registrados normalmente no mês todo. Por causa dos estragos 70% da população está sem o abastecimento de água.
Outra região bastante afetada é a área do Vale do Taquari, que abrange 40 municípios. O rio que corta a região e possui o mesmo nome atingiu 31,2 metros de altura e atingiu o maior nível da história. Até então o nível mais alto já registrado era de 29,9 metros, em 1941.
Na noite de quarta-feira, o governador Eduardo Leite solicitou que os moradores dessa região deixem suas casas.
“Infelizmente, a situação deste ano deverá ser pior que a de 2023. Veremos ainda um aumento nos níveis dos rios devido às chuvas. Então, é crucial que as pessoas se protejam e busquem abrigo em locais seguros, longe do perigo das inundações. Também pedimos que tomem cuidado com locais de encostas, onde pode haver deslizamentos devido ao encharcamento da terra”, disse Leite, durante coletiva de imprensa.
Ainda segundo o governador, as equipes de resgate enfrentam dificuldades para realizar as operações, devido ao mau tempo e à precariedade nos acessos.
“Precisamos de todos os recursos técnicos e humanos para salvar vidas neste momento. Estamos testemunhando um desastre histórico, infelizmente. Os prejuízos materiais são gigantescos, mas nosso foco neste momento são os resgates. Ainda há pessoas aguardando o socorro”, acrescentou o governador.
‘Enem dos Concursos’
Diante das enchentes históricas, o governo Lula decidiu adiar as provas do Concurso Público Nacional Unificado (CPNU), ou “Enem dos Concursos”, previstas para o domingo.
A informação foi confirmada pelo governo federal na tarde desta sexta-feira (3/5).
Com mais de 6,6 mil vagas, este vem sendo chamado em sites de cursos preparatórios de “o maior concurso de todos os tempos”. Mais de 2,1 milhões de pessoas se inscreveram.
“A gente percebeu realmente que esta é uma situação de agravamento sem precedentes”, disse Esther Dweck, ministra da Gestão e Inovação em Serviços Público, pasta responsável por organizar o concurso.
Ela afirmou que a situação das chuvas na região Sul do país tem se agravado cada vez mais, o que impede a realização das provas em diversas localidades.
Ainda não há uma nova data para a aplicação da prova. Dweck, afirmou que ainda é preciso fazer discussões logísticas em todo o país para definir a nova data.
“Nas próximas semanas poderão divulgar nova data, mas neste momento, toda a questão logística não permite divulgar nova data”, disse.
Havia mais de 2,1 milhões de inscritos no concurso.
A decisão do governo acontece após chuvas torrenciais atingirem o Sul do país, especialmente o Rio Grande do Sul.
Por que está chovendo tanto no Rio Grande do Sul?
Meteorologistas ouvidos pela reportagem da BBC News Brasil explicam que as chuvas intensas registradas no estado do Rio Grande do Sul nos últimos dias são consequência de uma combinação de três principais fatores:
- Presença de um cavado (corrente intensa de vento) em atuação na região proporcionando a formação de tempo bastante instável;
- Presença do corredor de umidade vindo da Amazônia, que potencializou a intensidade de precipitação
- Presença de uma onda de calor na região central do país
“Essa massa de ar quente sobre a área central do país bloqueou a frente fria que está na região Sul impedindo-a de avançar e se espalhar para outras localidades. A junção desses fatores faz com que essa instabilidade fique sobre o estado, causando chuvas intensas e continuas”, explica Dayse Moraes, meteorologista do Inmet.
Aliado a isso, o período entre o final de abril e o início de maio de 2024, ainda tem influência do fenômeno El Niño, que é responsável por aquecer as águas do oceano Pacífico, contribuindo para que áreas de instabilidade fiquem sobre o estado. Essa combinação de diversos fatores de uma única vez é considerada rara pelos especialistas.
As chuvas catastróficas do Sul têm relação direta com a onda de calor registrada na região Centro-Oeste e Sudeste, onde as temperaturas estão cerca de 5°C acima da média neste outono.
“Com a intensificação das mudanças climáticas globais os eventos climáticos extremos serão mais frequentes e intercorrentes”, acrescenta Rafael de Ávila Rodrigues, professor e climatologista do Instituto de Geografia da Universidade Federal de Catalão (UFCAT).
Situação pior do que a registrada em 2023
Relatório divulgado pela Sala de Situação, da Defesa Civil, mostra que áreas impactadas durante a emergência em setembro de 2023 estão em risco novamente.
Há oito meses, o Estado enfrentou o pior fenômeno natural registrado até então com a passagem de um ciclone extratropical que causou enchentes, atingindo 57 mil pessoas e deixando 54 mortes. Quatro pessoas ainda estão desaparecidas.
Na ocasião, as cidades mais afetadas foram Muçum, Encantado, Roca Sales, Lajeado e Estrela, todas localizadas às margens do Rio Taquari, que também vêm sendo castigado com as tempestades deste ano.
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