O Brasil alcançou, ontem, a marca de 3 milhões de casos prováveis de dengue em 2024. O número corresponde, praticamente, ao dobro dos registros ocorridos ao longo do ano passado. A data marca, também, o recorde histórico no número de mortes pela doença no país — foram confirmados 1.256 óbitos e outros 1.857 estão em investigação.
As informações são do Painel de Monitoramento de Arboviroses, do Ministério da Saúde. Ao todo, desde o início do ano, foram 3.062.181 casos prováveis de dengue.
Em 2023, a pasta havia previsto que o surto da infecção este ano deveria ser o maior registrado no país. A estimativa era de que poderia alcançar 4,5 milhões de casos até a 23ª semana epidemiológica — a atual é a 15ª.
Durante o ano passado, os casos chegaram a 1,6 milhão, o mais alto desde 2000. Além disso, 2023 também foi marcado pelo recorde no registro de mortes — 1.094.
Apesar de apresentar o dobro de casos e um número maior de óbitos, a taxa de letalidade pelo total de casos prováveis em 2024 (0,04%) é menor do que a constatada no ano passado (0,07%). Da mesma forma, o índice de letalidade pelo número de casos considerados graves este ano (3,93%) também fica abaixo do verificado em 2023 (5,22%).
Estabilidade
Segundo a secretária de Vigilância em Saúde e Ambiente do ministério, Ethel Maciel, o pico da dengue, em 2024, passou. Mas ela salienta que os trabalhos de combate ao mosquito Aedes aegyti devem continuar na mesma intensidade.
“A gente observa a maior parte dos estados em queda ou em estabilidade. Passamos daquele momento, mas ainda temos um caminho a percorrer. Às vezes, a gente dá a impressão de que o pior passou, só que ainda vamos ter pessoas adoecendo, pessoas que podem morrer”, alertou.
Para Joziana Barçante, parasitologista, pesquisadora e professora da área de doenças infecciosas e parasitárias do departamento de medicina da Universidade Federal de Lavras (MG), só é possível afirmar que o pico passou quando se constata uma queda no número de casos registrados. “A gente tem, historicamente, no Brasil, e principalmente em alguns estados, que o número de casos sobe até meados de abril e início de maio. Este ano, não teve uma antecipação da curva, mas, sim, de transmissão. O que se vê é que os picos estão acontecendo no mesmo período que aconteciam nos anos anteriores — março, abril e maio iniciando o declínio. Pode ser que se tenha chegado ao pico, mas só é possível saber isso depois que acabar o ano e fazer uma análise epidemiológica desses dados”, frisou.
Joziana explicou que o fato de 2024 ser um ano atípico em relação à dengue dificulta a realização de previsões sobre o ciclo da doença. Ela defendeu a importância de se focar nas estratégias de combate ao vetor da doença e na diminuição do sofrimento da população.
“O que se tem que pensar, neste momento, não é a que número vai chegar ou se chegou ou não o pico, mas, sim, focar nas estratégias de combate ao vetor e de redução do sofrimento da população. O mais importante é não diminuir os esforços, na expectativa de que a curva chegou ao pico e que vai começar a ter uma diminuição do número de casos”, explicou.
*Com Henrique Fregonasse, estagiário sob a supervisão de Fabio Grecchi
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